ATUAL DIRETORIA AJEB-CE - 2018/2020

PRESIDENTE DE HONRA: Giselda de Medeiros Albuquerque

PRESIDENTE: Elinalva Alves de Oliveira

1ª VICE-PRESIDENTE: Gizela Nunes da Costa

2ª VICE-PRESIDENTE: Maria Argentina Austregésilo de Andrade

1ª SECRETÁRIA: Rejane Costa Barros

2ª SECRETÁRIA: Nirvanda Medeiros

1ª DIRETORA DE FINANÇAS: Gilda Maria Oliveira Freitas

2ª DIRETORA DE FINANÇAS: Rita Guedes

DIRETORA DE EVENTOS: Maria Stella Frota Salles

DIRETORA DE PUBLICAÇÃO: Giselda de Medeiros Albuquerque

CERIMONIALISTA: Francinete de Azevedo Ferreira

CONSELHO

Evan Gomes Bessa

Maria Helena do Amaral Macedo

Zenaide Marçal

DIRETORIA AJEB-CE - 2018-2020

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DIRETORIA ELEITA POR UNANIMIDADE

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CONVERSANDO COM NATÉRCIA CAMPOS - Maria Amélia Barros Leal



Você, amiga, nos transmitiu singulares emoções nos mistérios daquela Casa, plena de tramas e sutilezas, revelando no romance a sua inteligência iluminada. No caminho das águas, mergulhei com paixão, flutuando sob uma sensação de aventura, vivendo os segredos inspirados pelo Conde italiano Ermanno de Stradelli em você, a filha do contista Moreira Campos, que fisicamente parecia frágil, mas, na realidade, possuía o poder de captar o íntimo dos sentimentos humanos.
Se você, no fim da viagem, ficou "à mercê de dois mundos, o imaginário e o real, procurando equilibrar a vida e os sonhos", é porque herdou de seu pai o poder mágico das concepções literárias, e de seu avô Julio Alcides, não só um binóculo de alcance, mas uma visão aguda e penetrante da selva Amazônica.
Embevecida pela descrição das paisagens, acompanho os seus olhos deslumbrados, fixos no CRUZEIRO DO SUL, na lua madrinha, no Japu, pássaro de bico vermelho que do sol trouxe o fogo; no Uirapuru, ave canora a que CY, a mãe de todos, pede que não pare de cantar; no Aturiá, comunicação estreita entre rios que recebe dos viajantes uma peça de roupa para abrandar a cólera dos espíritos e, descendo as águas, o Matupã, uma touceira desenraizada das ribanceiras do rio, pequena ilha flutuante, pela qual viajam plantas, pássaros, galhos, flores e garranchos. E, quando um pequeno vapor – o navio gaiola – passa com as redes armadas, você confessa que a imaginação voou intensa e, então, eu relembro o Professor Moreira Campos, profundamente sutil em pressentir e descobrir emoções contidas.
Com sensibilidade, você nos apresenta os Matis, que são os curandeiros, mestres na aplicação do curare e a cerimônia do Marake, deveras impressionante, porque os meninos que penetrarão no mundo dos adultos, sentem, em silêncio, as ferroadas das tocandeiras, as formigas de fogo.
Juruparu, o deus e demônio das florestas, exclui as mulheres do ritual, não permitindo que ouçam o som da trombeta da paixiúba. E eu me interrogo: por que a proibição? Seria medo de que a sedução feminina pudesse arrefecer o ânimo dos adolescentes?
Profundo mistério, insondável premonição, envolvida na exaltação do espírito...
A chegada a Parintins em 3l de dezembro de 2000, numa atmosfera de beleza indescritível, e os expressivos versos de seu amigo e poeta Dr.Wellington Alves deram-me a certeza, de que a viagem fantástica foi real e, quando "a esperança de um feliz ano novo tornou-se a sua companhia, a referência aos amigos que são preciosos e imprescindíveis como o ar, a água, o sol e os sonhos" me emocionaram tão profundamente que me imaginei naquele navio, usufruindo as nuances e os segredos, sentindo o vigor da natureza, decifrando lendas como você o fez, filha de um homem predestinado e de uma mãe muito amada, encantando-se com a pujança da natureza, vendo de perto a sumameira, ouvindo os gritos longos do Curupira e "achando divino não haver por perto alguém para silenciá-lo com um pilão".
E os botos? Os golfinhos sedutores? O delfim, a taboca Arapari, o Mapinguari, que no folclore amazônico é um gigante semelhante ao homem, porém coberto de pêlos?
Os gritos da ave agoureira, Urutau, a mãe da lua que chora quando ela surge, o tincuã, o pássaro alma-penada, o Matintapereira e o Japim que arremeda os pássaros?
No Rio Negro, o cacto da lua "cuja flor só abre as pétalas uma vez, em noite de lua cheia, desprendendo um perfume de essência rara e quando o dia nasce, se fecha".
Em toda descrição do universo silvestre, você impregna nas nossas mentes uma mensagem sensível de DEUS na natureza, prodigiosa em lendas e em beleza.
Há um ano, em 3 de Junho de 2.004, você deixou com serenidade o aconchego da família, o grande amor maternal, a literatura, as viagens, os seus livros e fotos, a Academia de Letras e seus mais caros amigos.
Deixou D.Zezé numa mortal saudade, pois, conjugando a falta do José com a da filha amada e companheira, pensou triste, chorou o passado de carinho e o amor sofrido e não teve forças para sobreviver.
Sentindo-se sozinho, o coração, pelos grilhões da amargura infinda, rompeu a pulsação da vida.
Para nós, você continua nas "Iluminuras", nas histórias daquela casa cheia de amores, de frustrações e de desencontros, nos contos publicados, no relato da viagem a Portugal e Espanha, no discurso poético e perfeito da posse na Academia Cearense de Letras e, finalmente, no "Caminho das águas'', milionário do verde império da Amazônia e dos sentimentos dos amigos que partilharam as emoções da aventura de garra e poesia.
Sentindo a sua presença, e inspirada na luz da FÉ, eu diviso o pai, a filha e a mãe, juntos na Eternidade, testemunhando o pensamento do grande Mário Quintana: "O amor é quando a alma muda de casa".

(Policromias - 5º volume)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A CRÔNICA DE RUBEM BRAGA - Zenaide Marçal


Muitas obras literárias, mesmo algumas obras-primas, passaram pela publicação em jornal antes de serem impressas em livro. Podemos citar, entre os autores brasileiros, Machado de Assis, com Memórias Póstumas de Brás Cubas; Graciliano Ramos, com Vidas Secas; Raul Pompéia, com O Ateneu, entre outros.
Assim é a obra de Rubem Braga. Considerado com justiça o maior cronista brasileiro da sua época, suas crônicas sempre tiveram lugar de destaque em grandes jornais e revistas do Brasil. Antes dele a crônica era um gênero pouco valorizado, pelo caráter efêmero da crônica jornalística, mas ele conseguiu dar-lhe o sentido de permanência literária com a sua prosa de admirável simplicidade e de considerável teor poético. A Poesia se faz presente a todo instante nas suas narrativas claras, envolventes, bem-humoradas, e informativas quando o assunto o exige. Assim, veio a ser o único escritor a conquistar um lugar definitivo na nossa literatura, unicamente como cronista.
Manuel Bandeira foi o primeiro a reconhecer, em Rubem Braga, o dom da prosa com originalidade e o incluiu na sua “Antologia dos Poetas Bissextos Contemporâneos”.
Nasceu Rubem Braga em Cachoeiro do Itapemirim no dia 12 de janeiro de 1913. Seu pai, Francisco Carvalho Braga, foi o primeiro prefeito da cidade. Formou-se em Direito em Belo Horizonte, mas nunca exerceu a advocacia. Ainda estudante, iniciou-se no jornalismo cuja profissão o absorveu e na qual obteve muito êxito. Foi cronista, repórter e comentarista político no Brasil e no exterior, como enviado de diversos jornais brasileiros.
Quando correspondente do Diário Carioca, acompanhou a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Escreveu “in loco” crônicas cheias do realismo brutal da guerra e o fez com tal fidelidade que, lendo-as, somos transportados à Itália, ao meio dos combates; somos levados a partilhar não só a sua indignação com as atrocidades da guerra, mas também a sua piedade pelo sofrimento dos jovens e das suas famílias. Essas crônicas estão reunidas no seu livro intitulado Crônicas da Guerra na Itália.
Durante o ano de 1950, viveu em Paris; em 1955, chefiou o Escritório Comercial do Brasil em Santiago do Chile; de 1961 a 1963, foi Embaixador do Brasil no Marrocos, para citar apenas alguns dos importantes cargos que ocupou. No entanto, nada fez com que a escrita de Rubem Braga perdesse a leveza e a sensibilidade de sempre.
Na época em que escrevia para um dos jornais do Rio de Janeiro, conseguiu prender a atenção dos seus leitores escrevendo sobre uma borboleta amarela, que voava livremente em pleno movimento da cidade. Levou-os durante três semanas, através da sua crônica semanal, a acompanharem o vôo da borboleta, enriquecendo a narrativa com os mais variados e coerentes comentários relacionados aos lugares por onde ela passava, como vemos neste trecho: “A minha borboleta! Isso, que agora eu disse sem querer, era o que eu sentia naquele instante: a borboleta era minha, como se fosse o meu cão, minha amada de vestido amarelo que tivesse atravessado a rua na minha frente e eu devesse segui-la”.
Sobre um pé de milho, que nasceu por acaso no seu jardim e foi cuidado até pendoar, escreveu: “Há muitas flores belas no mundo, e a flor do milho não será a mais linda. Mas, aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. Meu pé de milho é um belo gesto da terra!” – e acrescentou com humor: “Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever, sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilhos”.
Na verdade, repito, são preciosas as crônicas de Rubem Braga e, segundo Oto Lara Resende, é impossível qualquer análise de prosa em língua portuguesa, ou luso-brasileira, sem o conhecimento da sua obra.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

MEU AMOR IMORTAL - Lise Hortencia




Quero que venhas para mim, agora,
Trazendo-me a alegria do teu jeito.
As flores que plantaste – amor perfeito –
Em mim murcharam quando foste embora.

Quero que venhas para mim, agora,
fazer-me renascer junto a teu peito,
trazer a luz ao meu olhar desfeito,
comigo ver a vida em nova aurora.

A vida que ficou pesada e triste...
Simulando uma paz que não existe,
sorrindo apenas para não chorar,

eu sigo, tal palhaço em picadeiro,
tornando o pranto em riso o dia inteiro,
sem ter idéia aonde te encontrar!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Machado de Assis e o Preconceito - Ana Maria Nascimento


Entre os vultos importantes
de nossa literatura,
está Machado de Assis,
o “bruxo do Cosme Velho”
como lhe denominou
Carlos Drummond de Andrade.

Esse célebre escritor,
Que, em pouco tempo, tornou-se
um exímio conhecedor
do mundo da ficção,
teve a existência voltada
para insensatas paixões.

E foi nessa trajetória
que conheceu Carolina,
uma jovem portuguesa
com quem pôde desfrutar
as benesses da vitória
de quem vive um pleno amor.

Mas, cedo, a mulher querida
foi para junto do Pai,
e a consternação tamanha
arrebatou-lhe o prazer;
assim, quatro anos mais tarde,
ele também feneceu.

A família portuguesa
de Carolina Novais,
num mesquinho preconceito,
não permitiu que Machado
dormisse seu sono eterno
junto da mulher amada.

Mas esse ato desditoso,
que separou os amantes,
chegou a ser reparado
quando foi feito o traslado
de Carolina e Machado
para a mesma sepultura.

Hoje, próximo da entrada
num espaço reservado
do mausoléu acadêmico,
Machado e sua Carolina,
eternos enamorados,
estão juntos para sempre.

E, na lápide de mármore,
onde seus corpos repousam,
junto ao poema “À Carolina”,
as duas mãos entrelaçadas
denotando o excelso amor
que venceu o preconceito.

Portanto, a literatura
do nosso fértil país,
uníssona, bate palmas
a este vulto da cultura,
consagrado romancista,
grande Machado de Assis!

UM ENCONTRO COM DEUS - Sérgio Macedo


Espero ainda poder, à moda antiga, abrir-lhe portas e estender tapetes.
Inventar flores raras ou silvestres,
Servir um bom merlot, de fina casta e longínqua escolha.
Espero andar com meus argumentos,
Decidir com meus pés em seus descaminhos pensados.

Espero um dia, e que não seja muito distante,
Levá-la a algum lugar que a possa fazer chorar de emoção
Por ali estar.
Espero poder caminhar com ela de mãos dadas e sorriso aberto
E dizer seu nome e a chamar de minha mulher
No lugar de namorada ou companheira de trabalho.
Espero um dia vê-la de lingerie negra, sob luz tênue,
E observar seu sorriso maroto de quem sabe o que faz.
Espero que o tempo pare, pois está muito curto para mim. Tenho planos para ele.
Quero tê-la, entretanto, antes que se acabe.
Quero tê-la, entretanto, antes que se vá em definitivo.
Não quero ferir pessoas, nem macular minhas veias e pele com o sofrimento de existir.
Quero ferir pessoas com marcas de diamantes e de raios de luz.
Quero ferir pessoas com palavras que façam enevescer o sofrimento
E renovar a volúpia da vida.
Quero a paz de poder ir e voltar,
A paz de estar e não estar,
A paz de dormir e saber que, sob o mesmo lençol,
Está a pessoa amada, querida, perdidamente existencial.
Quero, sou egoísta, portanto, alguém muito feliz por estar comigo.
Quero a agonia do prazer sem fim,
A imagem imaculada da felicidade,
O momento eterno de estar nas mãos de Deus.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

AMAR - João de Deus


A quem asas me deu ao pensamento
e luzes acendeu ao meu olhar,
um beijo carinhoso - forte alento -
à vida assaz feliz: o pleno amar!

Por estas e quaisquer outras paragens
onde possa adejar um colibri,
perpassa-me frescor de mil aragens,
olores que despertam teu sorrir!

Assim, perdido nos desvãos da serra
- que se me ergue ao pensamento - faço
uma prece a Deus, a qual encerra

a confissão d'amor adormecido
e despertado então neste mormaço
d'estio, que jamais tinha sentido!

(Policromias - 4º volume)

LASTRO DE PRIMORES - José Moacir Gadelha


Planta que vibras plena de elegância,
és realmente um lastro de primores...
Em cada ramo há multidões de flores
E, em cada flor, sorrisos e fragrância!

Tremula ao vento, em leve balançar,
espessa fronde, amiga e hospitaleira!
Louvada seja a fauna brasileira
Quanto nos agrada esta planta do pomar!...

Quão majestosos galhos verdejantes!
Em cada galho, há ninhos palpitantes.
E flui de cada ninho o VERBO AMAR!

Deslumbram, no teu peito, a cada dia,
acordes de sublimes melodias
das aves que não cessam de cantar!

Ausência - Neide Freire




Onde estavas?
Manhã radiante
Enfeitada de flores
Chilreio de pássaros
Pulsar de vida
Alegria!
Onde estavas?
Hora cálida do dia
Encolhem-se as sombras
Vagueia no ar uma canção
Recolhimento e paz!
Onde estavas?
Palmas acenam a brisa leve
Desabrocham boninas
Hora devota da prece
Brilha uma estrela
Anoitece!
Onde estavas?
No espaço vazio
Deixei-me ficar
Prisioneira de tua ausência
E dei por mim, sozinha,
A segurar perplexa
Fanado ramo de esperanças mortas
E uma vontade imensa de chorar!

CÓSMICA - Leda Costa Lima


Conto estrelas, me confundo
na reflexão divergente:
se há tanta gente no mundo,
haverá mundo sem gente?...

Se existir, como serão
os seus meios de transporte,
os deuses, a religião
e os vários tipos de esporte?

Existirão novas cores,
vários graus de inteligência?
Quantas raças, formas flores,
e um Deus com onisciência?

É uma certeza que eu tenho.
Com gente, é certo que há
e nessa busca eu me empenho:
Minha alma gêmea, onde está?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PREAMAR - WALDIR RODRIGUES



Tal qual a flor que a correnteza arrasta
Para lugar ou praia indefinida
Com o doce amargo que a ilusão contrasta
Deixando a existência dolorida;

Tal qual o sol do amor de luz escassa
A penumbrar os sonhos desta vida
Embora a vida passe, nunca passa
A amargura da senda percorrida;

Assim também passou minha ilusão
Levada na corrente da paixão
Para as praias de um mar que não tem fim...

Que se alteia na angústia em pleno fluxo
Espraiando-se em mágoas no refluxo
Da maré que deixou dentro de mim!...

NEBLINA - IONE ARRUDA


Esta neblina ao entardecer
Dá-me o desejo de rever alguém.
E esse alguém só pode ser você
Que há algum tempo anda muito além.

Nesse momento pode acontecer
Que o sonho venha e deslize a sonhar,
E que meu sonho possa se estender,
Entre a neblina e o vibrante mar.

Mas fico à espera do anoitecer
Quando as estrelas vão no céu brilhar,
E nessa espera pode acontecer
Que venhas nos meus braços mergulhar.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

VIDAS - Silvio dos Santos Filho


Há vidas que vêm,
Há vidas que vão...
Há vidas que nos chegam
Sem nenhuma previsão...
Há vidas que nos deixam
E nos partem o coração.

Há vidas afloradas
Que nem foram desejadas...
Há vidas que se apagam
Quando mais são festejadas.

Há vidas reluzentes,
Há vidas desbotadas...
Há vidas descobertas,
Mas nem foram desfrutadas...
Há vidas que se perdem
Pelas curvas dessa estrada.

Há vidas cujas vidas
Nunca foram desvendadas...
Há vidas que só vivem
Numa noite bem sonhada.

Há vidas passageiras,
Há vidas prolongadas.
Há vidas disfarçadas,
Mal vividas, lamentadas...
Há vidas esquecidas,
Sem memórias registradas.

Há vidas que abdicam
Do calor da nossa mão.
Há vidas naufragadas
Sem nenhuma explicação.

(Menção Honrosa/5º Lugar no IV Concurso Literário Professora Edith Braga, promovido pela Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, Edição 2009)

QUERO... - THEREZA LEITE


Quero de volta passos de criança subindo escadas
O raio que me divisa o farol distante
O peso da bengala ferindo as calçadas
Pinturas vistas escorregando no trem que parte.


Constrange-me a pressa do momento que me toca
Passa veloz no espanto, quero retê-lo e não posso.
A multidão me apaga, os ruídos me emudecem...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

VOAR - Evan Bessa



Sempre pensei em voar como pássaro,
nas fantasias e sonhos de criança,
para ter a sensação de estar contigo
Nos lugares imprevisíveis e distantes.

Nas brincadeiras inocentes do passado
onde estavas a me proteger, a me olhar...
Com a delicadeza do amor paternal
e a envolver-me numa aura diáfana.

Sentia-me, princesa no castelo
encantado pela ilusão e quimera.
Admirada pelo meu rei e súditos
que alimentavam minha alma pueril.

Hoje, ainda, me perco a recordar
e voo longe pensando em te encontrar,
no balanço do quintal da minha mente

E a criança que agora, volta no tempo
Plena de alegria revive os momentos
Que jamais sairão do pensamento.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O SILÊNCIO DA CASA - Yolanda Montenegro


A casa está silenciosa.
Todos dormem.
Somente o gemido do vento
açoita as coisas vivas,
envivece os corações
despertando pensamentos
de passadas alegrias;
Festas - amigos todos chegando,
presenças de prazer e emoção.
Os vestidos de renda, colares e anéis
e os olhares dos jovens moços
e a música daqueles tempos idos,
imprevisíveis aos que despertam seus acordes;
e a casa silenciosa dorme
deixando em mim a nostalgia,
mas também a certeza de ter vivido
um passado feliz e não estar morta
ou esquecida dos momentos que se foram...
Agora a casa dorme e espalha silêncios...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

EUFÓRICO - PEREIRA DE ALBUQUERQUE


Estou feliz!... A luz morna do dia
Banha os canteiros do jardim em frente;
Além, onde a avenida principia,
As acácias balouçam docemente!

Estou feliz!... Adeus melancolia!
Não; não é ledo engano, estou contente:
Vai pelo ar uma doce melodia
que eche de festa o coração da gente!

Tendo um livro na mão, chego à janela
E, exsudando alegria e confiança,
Leio, sorrindo, uns versos de Varela...

Só tu, poesia, tens esse poder
De avivar em meus olhos a esperança
E, em minha alma, a vontade de viver!

(Policromias. Vol. 3)

MÃOS - REGINA BARROS LEAL


Mãos!
Desventuradas mãos que desprezam,
Severas, duras, frias.
Não acolhem o sofrimento de outrem.
Mãos causticantes, rígidas, rudes, sem amor.
Solitárias mãos entre tantas,
fugidias, soltas e amargamente desengonçadas.
Mãos que apontam, acusam.
Arrastam, machucam, denunciam.
Mãos feias entre tantas!
Mãos acolhedoras, quentes de afeto que acalmam, adoçam,
Que ninam, enobrecem um gesto de amor.
Mãos duras, calosas, rudes, grossas do trabalho da enxada,
Mas ternas no gesto que afaga o cabelo da criança faminta.
Mãos que batem, ferem, magoam, gélidas, enrijecidas entre tantas,
Mãos que amaciam, massageiam, acariciam o rosto enrugado da velha senhora.
Mãos plenas de vida, jovens, cinzentas, brancas, negras, novas,
Que amparam crianças, velhos e doentes.
Mãos... Como gosto de minhas mãos macias e acolhedoras!
(Policromias. Vol. 3)

AMOR EFÊMERO - ZINAH ALEXANDRINO



Bebi do teu mel,
Embeveida fui à vinha,
Não te encontrei.
Trouxe o meu fardo
Mas não te entreguei!

Ainda saciada,
Embriaguei-me e adormeci...
Acordei com a boca amarga de fel.

Tua vinha era ingrata.
O que me deste?
Um amor efêmero,
E... não me disseste.

(Policromias vol. 2)


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SE EU PUDESSE... GISELDA MEDEIROS





Ah! se eu pudesse ir além das estrelas,
atravessar a nado o oceano inteiro,
sorver os néctares abundantemente
e me tornar a rosa mais viçosa...

Se eu pudesse entrar no teu enigma,
vasculhar teus horizontes submersos,
cantar tua canção e me inspirar nas rimas do teu coração,
se eu pudesse...

Ah! se eu pudesse arrancar e mim estes tédios longos,
beber as fantasias que dos teus olhos fluem...
Ah! Seria eu a eterna voz dos ventos,
o frescor deliciante das campinas verdes,
o brilho incomunal dos etéreos astros,
a mais romântica canção de amor.

Assim, então, eu poderia te alcançar um dia,
e tu saberias do porquê destes meus versos,
da minha ansiedade, das minhas inquietudes,
das minhas fruições, dos meus desejos reprimidos
e, em explosões de notas místicas, dir-te-ia meu coração:
Como eu te amo! Ah! Como eu te amo ainda!

(Alma Liberta)

DIVINO POEMA - ELIANE ARRUDA


Viver no mundo sem aplaudir a natureza,
Sem preservar a sua fauna e a sua flora,
É a negação de ser "humano", com certeza,
Nem sempre ao homem concedamos loas, glórias!

Amar a Deus é amar também a sua obra,
E a Natureza é um poema da criação,
Se para ela o cuidado nunca sobra,
Algum lugar verá a sua exaltação.

E haja chuvas, temporais, ondas gigantes...
Lavas dispersas pela fúria de um vulcão!
Na hora certa, bem que entoa graves cantos.

Dela o homem seja amigo, seja amante,
Revidar sabe quando sofre u'a agressão!
Não poluamos mares, rios, lagos... tanto!

SAUDADES... MARIA HELENA MACÊDO


SAUDADES...

São como véus que se embalam no recôndito da memória alongando-se como se quisessem
assenhorear-se de todo o nosso ser, na ausência indelével de nossos entes amados.
São como os incensos queimando a alma, queimando nossos sonhos em sombras de visões fugidias, ninhos desfeitos no cume da montanha de nossas vidas, pelo fragor da ventania adversa.
O travo forte da dor da saudade é o nunca mais! E o pranto corre no desfolhar das
lágrimas semelhante ao orvalho que se condensa ao cair da noite e enregela nosso coração.
O labirinto crepuscular da saudade nos enleia numa teia da qual é muito penoso sair.
Ficamos acorrentados à dor que nos sufoca, nos arrebenta o peito, pois toda saudade é irremediavelmente dorida.
O destino com seu determinismo nos rouba da vida o sabor da convivência, do sorriso, do falar, do abraço, do carinho, do conforto do amor, tudo o que conquistamos, como a essência de ser feliz. Assim, Tristão de Ataide disse que "Nada supre a ausência nem conforta a solidão".
O marinheiro sente saudades de seu mar, do horizonte que divisava, do fragor das ondas,
ao conduzir o seu barco do qual foi o timoneiro.
Casimiro de Abreu já dizia em seus versos:
"Ai, que saudades que tenho
da aurora da minha vida,"
Tudo são saudades: da infância, da adolescência, do colégio, dos amigos ausentes, mas elas são figurativas em nossa visão distante... Também são ocasionais, fagueiras, muitas ocorrem com risos os até gargalhadas de momentos hilários.
Um nosso querido amigo, Cel Noé Rebello de Araújo, ensinou-me a sublimar a saudade com esta máxima: "Face à visão cristã do sentido da vida, o que completa e enriquece a saudade é a Fé, regida pela Esperança e alicerçada pela Caridade. Não basta querer que volte, mas permaneça".
Quando o destino, o acaso, a infelicidade, o imponderável nos subtai um ente querido, nada nos resta senão verter muitas lágrimas, lutar para superar muitas dores, lentas e irreparáveis, difíceis. E como são difíceis!!!
Imagino quão sofrido foi o sentimento dos lusitanos ante o afastamento da sua amada terra portuguesa, saudade que lhe fez nascer o fado, com o qual procuravam aliviar suas tristezas pela privacidade que lhes foi imposta, fazendo-os ausentar-se de seu torrão.
Como é lamentável que a beleza da palavra SAUDADE, a mais bela palavra de todas as línguas, adormeça tantos corações nas desilusões da vida!!!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

DESABAFO EM LOUVOR - FRANCINETE AZEVEDO

Hosana aos peregrinos
Da redenção!
A ti, irmão, Francisco José do Nascimento,
O Dragão do Mar da liberdade,
Cantaremos glórias sem fim!
Livre, hoje, das senzalas e dos grilhões,
Porém encarcerado ao descaso
E à indiferença
De uma sociedade preconceituosa,
Pregoeira de uma falsa
igualdade de direitos
Para todos os filhos dessa terra,
A que ajudamos a construir.
Justiça! Conclamamos, apenas, por Justiça!