ATUAL DIRETORIA AJEB-CE - 2018/2020

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PRESIDENTE: Elinalva Alves de Oliveira

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2ª VICE-PRESIDENTE: Maria Argentina Austregésilo de Andrade

1ª SECRETÁRIA: Rejane Costa Barros

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2ª DIRETORA DE FINANÇAS: Rita Guedes

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DIRETORA DE PUBLICAÇÃO: Giselda de Medeiros Albuquerque

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CONSELHO

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DIRETORIA ELEITA POR UNANIMIDADE

quinta-feira, 27 de maio de 2010

FRANCISCO CARVALHO FALA, COM PROPRIEDADE, SOBRE LIVRO DE NEIDE AZEVEDO LOPES


TEORIA DOS AFETOS
Francisco Carvalho

Tenho a impressão de que todos os poetas, com raríssimas exceções, têm semelhanças estilísticas com outros escritores do universo da poesia. Principalmente os que lêem os grandes autores da poesia erudita, dificilmente escapam às influências dessas leituras. Sabido que elas podem ocorrer por mera casualidade, independentemente do conhecimento direto dos autores. No caso específico de Neide Azevedo Lopes, além da influência machadiana referida pelo prefaciador F.S. Nascimento, é lícito supor que ela se haja nutrido, também, de cancioneiros populares e eruditos, como, por exemplo, o do português Antônio Nobre, conhecido pelo seu gênio de autor de canções imortais.
Simples leitor de poesia, quero referir-me ao livro de Neide Azevedo Lopes (Teoria dos Afetos. Expressão Gráfica, 2010, 120p.), o qual vem a público sob os melhores auspícios.
Fiz uma coleta de textos onde a expressão poética se caracteriza pela intensidade. O final do poema da p. 13 é exemplo de boa poesia: “E na encantada escuridão / Do imenso mar do tempo / Dorme tua face plena de mistérios”.
Na página 15, a poesia volta com a mesma força: “E a saudade passeia por cima das horas / Impaciente, a pena salta da gaveta / E o livro tomba em desalento”.
Na página 18, estes versos chamam a atenção do leitor: “Tens nos olhos estrelas esquecidas / Da cor solar do fruto sazonado”.
O poema da página 52 repete, no final de cada estrofe, o verso: “Para escrever meu verso”. Essa repetição é uma forma bastante usada pelos cancioneiros populares para fortalecer uma idéia no contexto do poema.
Na página 53, a autora demonstra certo misticismo neste breve terceto: “Cobre-se tudo / De silêncio e paz / cantam os anjos”.
Na página 60, Neide Azevedo nos brinda com um grande verso, digno das melhores antologias: “Pesa-me o domingo sobre os ombros”. O leitor esteja à vontade para tirar as suas conclusões.
Na página 63, ela nos transmite esta mensagem: “Tua palavra acorda à tua messe / Ao teu som, ao teu sol / à tua prece”.
No poema da página 67, não se repete o verso, mas a rima em “ar”. Essas repetições caracterizam o estilo da autora. Na referida página, a vocação para o cancioneiro volta a surgir: “Marina tem cheiro de menta / Tem boca que inventa / Canções de ninar”.
Num excelente poema da página 75, ela nos comunica uma de suas preferências literárias. Isso acontece numa quadra da melhor invenção poética: “Estou farta de léxico / Ardil redundante / Prefiro a divina / Comédia de Dante”.
Na página 78, dois versos inesquecíveis: “Sou limo, raiz e hera / Porque sou poeta”. Com toda a certeza, limo, raiz e hera são três coisas indispensáveis a um poeta que se preza.
Os leitores de Neide Azevedo precisam ler e decorar o belo poema da página 89. Não vou citar nenhum verso para obrigá-los a ler esta oitava maravilhosa.
Vou encerrar com o poema A Noite (p.100), com a primeira estrofe: “Tenho medo da noite / Usando o pesado manto / Ela traz o vento de açoite / Não quer ouvir o meu pranto”.
Os versos por mim mencionados são os que me tocaram mais profundamente. Muitos outros poderiam ter vindo à cena, pois não lhes falta merecimento para tanto. Neide Azevedo nos oferece seu testemunho poético do que a vida e os fatos lhe têm proporcionado. Seus poemas são documentos fundamentais de uma existência que se enriquece pela palavra. A palavra que traduz o mistério poético. A palavra que se oferta ao leitor como um sinal de protesto ou de esperança. A palavra que se organiza para compreender o significado da interioridade, que aos poucos desmorona. A poesia pode não ser a salvação do homem pela palavra, mas pode ser a palavra que semeia a esperança num mundo melhor. Não esquecer que no terceiro poema do livro (p.15), estão escritos estes versos: “E a denúncia de uma longa espera / Cai sobre todas as coisas”.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

LEIAM E BEBAM A BELEZA DE TEXTO DO PROFESSOR E ACADÊMICO VIANNEY MESQUITA


TEORIA (E PRÁTICA) DOS AFETOS

Em pleno domingo quasímodo (11.04.2010), experimentei o encanto de ler um mimo do Criador, obsequiado à imensa poetisa Neide Azevedo Lopes, logo a mim por ela substabelecido.

A quadra pascal é espiritualmente propícia para se apreciar arte tão edificante, a fim de se teorizar e, jamais, praticar metros e afetos, como procede a autora de Teoria dos Afetos desde o uso da razão, quando sua vida passou a coincidir com uma rima rica.

Neide fez-me lembrar de Sônia Leal Freitas, no Cedro do Éden, monumental obra acerca da qual comentei nas guarnições há uns oito anos.

Na Teoria (e na prática) dos afetos, também quedo pasmado, como a reler o Metal Rosicler, de Cecília Meireles, menos por identidade estilística e mais pelo esplendor vocabular e elevação ideativa, fluência e estro desdobrados, centuplicados a cada elaboração. Nalgumas passagens, Neide, também, mostra similitude com Gabriela Mistral, Nobel de Literatura (1945), no seu Ternura, enquanto noutras estâncias aparece, ainda, com a elevação comovente da Marquesa de Alorna.

Pelo fato de bem o saber, ela emprega, com propriedade e exatidão, os expedientes figurais admissíveis na poesia, aformoseando redundantemente a estesia de suas composições. E assim, tomada por um enlevo anímico, veemência dos escolhidos, achega-se ao Ressuscitado, para o Qual também solicita o leitor a rezar, ao decodificar suas primorosas composições.

Tal como sucede com Sônia, sua originalidade e inspiração multíplice de elaborar representações, conformando-as extraordinariamente à dvlcisonam et canoram lingvam cano, parecem acercá-la de Florbela (de Alma da Conceição) Espanca (Juvenália; Livro das Mágoas).

Também os efeitos imprimidos nas expressões de musicalidade do seu metro fazem-me evocar os botticellis, rafaéis e michellangelos da Capela Sistina, bem assim a expressão da alma nacional galega de Rosalía de Castro, em O Cavaleiro das Botas Azuis.

Neide Azevedo Lopes é um verso de sete ictos do sonetilho a exornar a poética tematicamente múltipla, de formosura inimitável, beleza desigual, diretamente proporcional à magnificência de sua adorável pessoa.
Vianney Mesquita - da Academia Cearense da Língua Portuguesa

quarta-feira, 19 de maio de 2010

REUNIÃO MENSAL DA AJEB - MÊS DE MAIO/2010

A Palestrante Mary Ann Karam


Mary Ann Karam

Rejane Costa Barros

Maria Luísa Bomfim

Cybele Pontes

Giselda Medeiros

























Correspondeu a todas as expectativas a sessão deste mês de maio da AJEB-CE.


Sob a presidência de Maria Luísa Bomfim, a sessão transcorreu num ambiente de alegria, descontração e muita poesia, com a excepcional palestra de Mary Ann Karam, que discorreu, em interação com o auditório, sobre o poder e magia da palavra.









Mary Ann Karam e os filhos


terça-feira, 18 de maio de 2010

CANINDÉ - Vicente Alencar


Canindé,
aos pés de tua abençoada Basílica
repousam as esperanças
dos desafortunados
também filhos de Deus.
Dos esquecidos pelos Governantes,
das vitimas da seca inclemente,
dos que nasceram em hora errada,
dos que vivem sem saber por quê.
Aqueles não sabem
que os problemas seus
são também meus,
são também nossos.

Canindé,
aos pés de tua abençoada Basílica,
soam lamentos,
soam gemidos,
soam preces
dos não lembrados pela sorte.
A reza, a fé, o terço,
a mensagem,
os lábios secos em oração.
Os olhos já doentes
que pedem atenção,
o corpo, coitado, martirizado,
que pede perdão,
sem saber por quê.


Em toda a vastidão da fé,
em todo momento de oração,
São Francisco
faz o que pode e,
com suas bençãos e sua força,
pede a Deus por todos.

domingo, 16 de maio de 2010

Rachel de Queiroz e sua Consciência Político-Social - EVAN BESSA



Cumprimento a Mesa na pessoa do Sr. Presidente da ALMECE, Lima Freitas, e os demais presentes através da colega Francinete Azevedo, acadêmica abnegada e pró-ativa na dinâmica de atividades desta Academia. Quero expressar meus sinceros agradecimentos pelo convite formulado para conversar um pouco sobre a escritora Rachel de Queiroz, da qual teríamos muito a dizer, a respeito de sua extraordinária obra, se não houvesse limite de tempo.

Sabemos que a ALMECE, durante todo o ano de 2010, alusivo ao centenário de nascimento da autora, renderá homenagens nas reuniões ordinárias a essa cearense que tanto nos enche de orgulho. Assim sendo, escolhi apenas um aspecto relevante de sua vida para falar aos amigos almeceanos. O tema a ser discorrido é: Rachel de Queiroz e sua Consciência Político-Social.
Inicio com um pensamento da autora que diz: “Sou pela liberdade. Pelas concessões ideológicas. Eu acho que o voto do analfabeto foi um dos maiores erros políticos, um instrumento de demagogia, de rebaixamento político, o voto dos analfabetos”.

Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza em 17 de novembro de 1910. Pertencia ao ramo dos Alencar, outro orgulho dessa terra. A família tinha raízes fincadas em Quixadá e Beberibe, entrelaçadas com outras tantas famílias que fazem parte de sua árvore genealógica, tais como: Lopes, Queiroz, Bessa, dentre outras.

Desde a adolescência, apresentava-se rebelde e ousada para os padrões da época. Nesse sentido, escreveu uma carta ao jornal “O Ceará”, ironizando o concurso de Rainha do Estudante, utilizando o pseudônimo Rita Queluz. Seu poema “Telha de Vidro” foi publicado no mesmo jornal. O destino, porém, lhe prega uma peça. Por conta da carta, é convidada para ser colaboradora do citado periódico e passa a trabalhar no folhetim “História de um Nome”. Inicia-se assim na carreira de jornalista. Foi uma das fundadoras do jornal “O Povo” em janeiro de 1928, fazendo parte de um grupo seleto de colaboradores.

Nos anos 1928 e 1929, Rachel começa a se interessar pela política social do país. Tinha simpatia especial pelo Bloco Operário Camponês de Fortaleza. A partir daí, participa ativamente dos grupos esquerdistas que estavam se reunindo para formar o primeiro núcleo do Partido Comunista ficando como aliada até 1933.

Em 1930, com essa consciência político-social e, em face das leituras constantes a que se dedicava o que lhe proporcionou uma relativa bagagem cultural, escreve o primeiro livro: “O Quinze”, publicado no Ceará, financiado por seu pai, Daniel de Queiroz, com uma tiragem de 1000 exemplares. O livro foi muito bem aceito pela crítica literária da época, o qual atravessou fronteiras do nosso Estado, chegando às mãos dos escritores Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade.

“O Quinze” faz parte da literatura do ciclo nordestino brasileiro em que se encontravam escritores como José Américo, José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos, intelectuais que tinham perfis e visões semelhantes, transferindo para os livros a realidade que vivenciavam. Não escondiam as dificuldades e preocupações que seu povo vivia. Romance de fundo social, bastante realista que mostra o sofrimento da gente do interior, diante da luta secular da miséria, privação do homem e da fome. A grande seca de 1915 era fato real e concreto, que levou a retratar com maestria o drama dos personagens Vicente Conceição, e por outro lado, os retirantes da família de Chico Bento, na travessia para a busca de dias melhores. Rachel descreve o amor, o conflito social e todos os desdobramentos, costumes da época, tornando-se, assim, uma ficção autêntica do drama explicitado.

Segundo Adonias Filho, “com esse romance o ciclo nordestino alarga-se para interferir na ficção brasileira – amplia-se sobretudo na linguagem e estrutura para converter em ficção o homem, a terra, no drama regional.”

Gilberto Amado acrescenta: ”Uma produção tão perfeita e tão pura que continua sozinha, inigualada, tempo afora.”

Com os estímulos recebidos de autores ilustres continua sua atividade de escritora produzindo em 1932 o romance “João Miguel” e, em 1937 lança “Caminhos de Pedras”. Somente mais tarde escreveu “As Três Marias”. Todos eles de cunho social e político revelando injustiças sociais e a miséria social e política do seu povo.

Esta mulher de infindáveis talentos se destacou na crônica (Diário de Notícias, Revista O Cruzeiro – no Rio de Janeiro); no romance; no teatro, com a peça “Lampião” que foi montada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e no Teatro Leopoldo Fróes em São Paulo. Foi tradutora de vários idiomas: francês, inglês, italiano e espanhol. Traduziu cerca de 40 obras. Escreveu literatura infanto-juvenil: “O Menino Mágico”. Como se observa em Rachel, a sensibilidade exacerbada a fez múltipla na criação e nas artes, Seus livros foram lançados no Japão, Alemanha, Israel e França. Recebeu vários prêmios e títulos por sua produção literária. Foi a primeira mulher a adentrar na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Rachel, sempre corajosa e brava, não negava o sangue de sertaneja da gema. A única contradição aparece no tocante à tradição nordestina das mulheres do seu tempo em termos de religiosidade. Ela não tinha religião. Dizia-se agnóstica. Em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, em 1968, afirmou: “É muito ruim não ter crença, porque nas fases ruins você não tem a que se apegar. Tem que se encolher em si mesma e aguentar a pancadaria. Invejo profundamente quem tem boa fé. O Helder (D. Helder Câmara) ainda tem esperança de me converter, diz que quer morrer um dia depois de mim só para rezar a extrema-unção junto comigo.” Noutra ocasião, falou o seguinte: “na minha infância, todas as velhas só viviam na igreja (...) velha sem religião, quem inaugurou foi minha geração.” Tinha plena consciência da opção religiosa frente ao mundo. Não se sentia culpada, mas encarava a sociedade cristã com espírito forte e sem se penitenciar por essa atitude. Mesmo afastada da Igreja, tinha amigos padres, contando no seu círculo de amizades com D. Helder Câmara, seu conterrâneo, Padre Cícero, Irmãs Simas e Elisabeth (ambas do Colégio da Imaculada Conceição).

Mostrando sempre que estava à frente de seu tempo, foi a primeira jovem a frequentar os cafés da Praça do Ferreira onde se reuniam intelectuais da terra com destaque para Antônio Sales, seu padrinho literário.

Em entrevista concedida a Vitor Casimiro, em 18/8/2000 (exclusiva para o Educacional), fala o seguinte: “Eu sou professora. É o único curso que fiz no Colégio da Imaculada Conceição, de Fortaleza. No resto, eu sou franco-atiradora, fui aprendendo com a vida e comigo mesma.”

Ela não gostava de ser considerada famosa. Tinha verdadeira aversão à participação em eventos sociais. Mulher moderna, não se iludia com títulos ou outras bajulações que alguns lhe faziam. Sem vaidades, avaliava sua obra assim: “Nunca releio um livro meu. Tenho um pouco de vergonha de todos os meus livros, de “O Quinze” tenho uma antipatia mortal, esse livro me persegue há sessenta anos. Detesto todos eles.” É interessante ouvir com tamanha espontaneidade uma avaliação dessa natureza. Achava que era mais falada que famosa.

Muito cedo, a escritora Rachel de Queiroz, com senso de observação aguçado, começou a perceber as dificuldades de seu povo, as mazelas sociais e os ditames da política em seu país.

Sempre se rebelou diante das injustiças sociais. Nos seus romances retrata com fidedignidade a luta secular do povo contra a miséria e a seca, bem como a do operário que labuta para receber o pequeno salário.

Em 1931, conhece integrantes do Partido Comunista. E inicia seu entrosamento com ele. Por essa razão, é perseguida pelo regime ditatorial. Depois se desentendeu com o Partido em face de discordância sobre o enredo do romance “João Miguel.” Acharam que o enredo era preconceituoso frente à classe operária. Rachel, então, virou trotskista militante, tendo sido presa em Pernambuco como agitadora comunista.

Getúlio Vargas, quando ainda delineava o Estado Novo, já se preocupava com seus opositores. Rachel, considerada agitadora, logo vai presa, em 1937, em face das divergências de caráter político, no quartel do Comando Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará. Com a chegada do Estado Novo, seus livros foram queimados em Salvador-BA, com os de escritores perseguidos: Jorge Amado, Graciliano Ramos e outros, porque eram tidos como subversivos.

Em entrevista a O Jornal afirmou: “...eu fui presa várias vezes. A mais demorada, passei seis dias na cadeia; foi quando Getúlio Vargas estava preparando o golpe para se apossar do poder. Ele botou todos os jornalistas em cana e deu o golpe”. Mandou prender tudo quanto era de intelectual esquerdista, trotskista, stalinista, anarquista, todo mundo foi preso em 1937. Para Rachel, o Estado Novo foi pior que a ditadura de 1964, porque ele tinha processos fascistas já codificados. Tinha o modelo alemão, polaco, italiano e Getúlio Vargas se associou a esses governos criminosos, terríveis, monstruosos, esclarecia a escritora.

Falando do apoio que recebeu de seus familiares, em entrevista a O Jornal afirmou: “...o jornal católico de Fortaleza se escandalizou porque papai e mamãe foram me visitar na prisão. E quando me viram toda heróica, toda Joana D’Arc, eles começaram a rir”.

E prossegue, dizendo para o mesmo jornal: “...tive uma formação política comunista. Foi o único período em que estive na militância, depois eu fiquei somente como observadora, sem atuação direta. Mas eu sempre fui espírito de porco, sempre do contra. Sou da família daquele cara que disse: “Há governo, sou contra.”

Quando lembrava os dias em que esteve presa por motivos políticos, ela evitava o tom de mártir e recordava com bom humor que sempre foi bem tratada na cadeia e até fazia amizade com os carcereiros.

Por essas posições e compreensão do fato político, foi fundadora do movimento esquerdista do Ceará. O seu registro no Partido Comunista consta na Delegacia de Ordem Política e Social de Pernambuco, com o nº 883, considerada pelo regime “perigosa agitadora”.

Com inteligência e perspicácia, aproveitava-se de sua escritura para nas crônicas dizer o que pensava. Numa delas, da revista “O Cruzeiro” de 12 de setembro de 1959, Rachel externou sua opinião sobre o Estado Novo: “Com o Estado Novo, todo o mundo amordaçado, sem ninguém para estrilar, o hábito de regalia universalizou. Os homens públicos deixaram de separar o que era do Estado e o que era deles, ou antes, o uso e abuso dos bens públicos passaram a ser privilégio dos cargos”.

Ainda se referindo aos políticos, no seu livro “Um Alpendre, Uma Rede e Um Açude”, coloca mais uma vez sua visão crítica, acerca dos representantes do povo no Congresso Nacional: “... sou leitora contumaz do “Diário do Congresso” e escuto as irradiações das atividades parlamentares sempre que a censura governamental me permite esse entretenimento cívico – eu já me acostumei a conhecê-los todos: há os que sabem, há os que pensam que sabem, há os que entendem de qualquer coisa, mas é mister garimpar essa qualquer coisa sobre o cascalho das bobagens e dos lugares-comuns; há os sérios entendidos, há os sérios bobos, há os ocos e há os que têm recheio dentro, havendo ainda a enorme variedade na qualidade desse conteúdo. E há, naturalmente, o contingente dos que não têm nada em todos os sentidos, que não servem nem na hora de votar, porque sempre votam com o pior.”

Essa observação da escritora é tão pertinente que se poderia enumerar e até nomear as categorias declinadas no texto acima. Não é ficção, mas realidade palpável e concreta, nos dias de hoje, mesmo, em pleno século XXI.

O Partido Socialista Brasileiro lançou sua candidatura a Deputada Estadual, em Fortaleza, defronte à Coluna da Hora.

Em 1964, embora não mais comunista, mas apenas socialista, participa da conspiração para a derrubada de João Goulart e realiza reuniões, visando ao golpe do estadista. Segundo a escritora, aderiu ao golpe também porque era amiga de Castelo Branco, um dos generais conspiradores, que veio em pouco tempo a assumir a Presidência de nosso país.

Mais tarde é nomeada pelo Presidente Castelo Branco como delegada do Brasil na 21ª sessão da Assembléia Geral da ONU, agregada à Comissão de Direitos Humanos e, em 1967, integra o Conselho Federal de Cultura.

Jânio Quadros, quando Presidente da República, a convidou para o cargo de Ministra da Educação, o qual foi devidamente recusado, com a seguinte justificativa: “... sou apenas jornalista e gostaria de continuar sendo apenas jornalista”.

Criticava os colegas pela postura política. Dizia que eles liam apenas apostilas doutrinárias que tinham trechos dúbios. O único integrante do Partido que havia lido “O Capital” na íntegra era o crítico Mario Pedrosa, afirmava ela. Ela era contra a qualquer posição sectária. Para ela o sectarismo é um estigma. A questão de ideologias é para almas estreitas, dizia. Você pode manter comunicação permanente se tiver idéias abertas e aceitar todos os caminhos.

No livro “Tantos Anos” dedicou um capítulo ao Padre Cícero, que ela, ainda jovem, conheceu. No livro, coloca suas impressões sobre os intelectuais brasileiros: “Eles não refletem quando vão apoiar esta ou aquela corrente ideológica, guiando-se mais por amizades e panelinhas do que por convicções. Vigora na vida cultural o mesmo princípio coronelista da política partidária”.

No quartel do Comando Geral do Corpo de Bombeiros (local onde esteve presa) existe uma placa em sua homenagem, mandada afixar, após sua morte, por Lúcio Alcântara, que na época governava o Ceará. Ele participou do evento, juntamente com seus familiares. Registre-se, também, a iniciativa do gestor público mencionado: a assinatura do decreto, dando o nome de Rachel de Queiroz ao Colégio Militar do Corpo de Bombeiros. O político ressaltou na ocasião, a luta da escritora pela Democracia e a Liberdade de ideias e convicções, fato esse que permeou toda a sua vida.

Cônscia de sua responsabilidade, aproveitou a literatura para chamar atenção da seca do Nordeste e dos problemas sociais, políticos e econômicos do país. Nas suas crônicas aproveitava para denunciar, esclarecer e trazer os leitores informados do dia-a-dia que influenciavam de perto, a vida cotidiana do homem brasileiro.

Quando foi chamada para habitar no plano superior, os cearenses ficaram perplexos diante da notícia. Ela saiu de cena de forma silenciosa, sem alarde, demonstrando dignidade, como boa cearense, no dia 4 de novembro de 2003, na cidade do Rio de Janeiro.

O Ceará perdeu sua maior Estrela da Literatura e o Brasil ficou órfão da escritora, da intelectual ímpar, que todos conheciam e admiravam.


(Palestra proferida na ALMECE, dia 15/5/2010)

terça-feira, 11 de maio de 2010

CONVOCAÇÃO PARA A REUNIÃO DE MAIO



Fortaleza, 10 de maio de 2010

Prezada(o) Ajebiana(o)

Ao aproximar-se a data de nossa reunião, que acontecerá no dia 18 deste mês de Maio, às 9h30min, no auditório da Academia Cearense de Letras, estamos enviando-lhe esta carta-convite, por sabermos que sua presença nos é sempre muito cara.
Estamos dando início a mais uma etapa em nossa Associação, agora sob o comando da nova Diretoria eleita para o biênio, 2010-2012. Contamos com você para que nossas reuniões possam continuar sendo proveitosas e agradáveis como de costume.
Teremos a oportunidade de assistir, neste mês, à palestra da Professora Mary Ann Leitão Karam, que ministra cursos de Desinibição e Oratória em nossa capital, sendo também poetisa e contista. Ela falará sobre “O Poder da Palavra”.
Reafirmando que aguardamos o prestígio de sua presença, subscrevemo-nos,

atenciosamente,


Maria Luisa Bomfim
Presidente

sábado, 8 de maio de 2010

PARA A MINHA MÃE, IRENE - Nilze Costa e Silva



Tu não sabes das coisas que me roubaram de ti. Teus caldos, teus zelos, teus desvelos. Tua mão me compungindo a testa na suavidade da compressa morna, folha de corama com manteiga derretida, aliviando-me as dores de cabeça que infernizaram os meus tempos de menina.

Irene, muda para as revelações escandalosas, pudica, escondendo a menarca precoce à filha inocente, coisa feia, para quem mergulhada em preconceitos ancestrais.

O chinelo na mão, o mistério descoberto, a boca escancarada, imprecando, gritando, ralhando. O ciúme doentio, a fera a defender os filhotes do sol, da chuva, do mal...

(Irene me dá a chave do mundo, que eu sei caminhar sozinha. Enxuga a lágrima que brilha. Tu sempre tiveste vergonha de chorar... Me dá liberdade que eu quero voar!)

Irene chorando por eu sangrar, atropelada. Irene rezando, brigando, cansada, suada. No avental a marca dos dez dedos. Na palma da mão a impressão da testa fatigada.

Irene o longo quintal a varrer, as folhas se amontoando, o velho fogão de barro. O sono leve ao mais silencioso ressonar dos filhos. As narinas dilatadas farejando o perigo... Irene, a redoma. As barrigas anuais: paristes todos os filhos do mundo!

Exangue, a comadre aparando o menino, os ais dolentes espalhados na casa toda.

O beijo da primeira comunhão. O único, entre tantos que guardaste e não me deste por pejo.

Irene, o retrato jovem de luto da mãe. Aquele, na moldura em tripé, que não gostavas, mas que exibíamos às visitas por acharmos bonito o sorriso inefável de Mona Lisa órfã e triste. Que mistério fotografaram em teu rosto, Irene?

As cartas que me pilhaste lendo escondida. Como ousava eu descobrir aquelas frases apaixonadas, escritas por teu marido nos primeiros tempos de casamento? Coisa horrível, não é, Irene? A lágrima que correu no teu rosto no dia em que eu fui embora...

Até os versos, Irene, que eu iria escrever em tua homenagem, me foram roubados pelo poeta Manuel Bandeira:

"...Imagino Irene entrando no céu:

- Licença, meu branco?

E São Pedro bonachão:

- Entra, Irene! Você não precisa pedir licença!"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

HOMENAGEM A TODAS AS MÃES


SER MÃE...

J. Udine

Ser Mãe é concentrar em si a essência do Amor!
É doar-se ao filho até a última conseqüência;
Ser Mãe é ser estrela de grande fulgor
Para brilhar no mundo em Luz e Providência!

Ser Mãe é ter a suavidade de uma flor!
É ser perfume do amor e da benquerença;´
É ser um sol de beneficente calor;
É ser Paz, é ser ternura, e é ser clemência!

Ser Mãe é ser eterna e sublime Poesia!
É trazer n'alma e face um traço de Maria,
A Mãe das mães, de divina maternidade...

Ser Mãe é ser em Deus um vulto extraordinário;
Mãe é ser missão: cruz que se leva ao Calvário,
A doar-se em amor, para sonhar a Eternidade!

sábado, 1 de maio de 2010

As Marcas do Discurso Poético de Neide Azevedo Lopes - F.S. Nascimento


Com sua reconhecida ascensão intelectual, quando em 2001 lançou seu livro de poemas“ O Resvalar do Sonho”, a escritora Neide Azevedo já demonstrava plena noção da regra do verso livre. Adotava o assimetrismo linear, usando no final de cada verso a vírgula, a exclamação, o ponto final, a reticência ou a pausa sonora.Passados nove anos, ao publicar sua atual “Teoria dos Afetos”, a acadêmica deixaria notoriamente expresso um avanço na composição dos seus poemas em versos livres.
Com essa vocação poética, ver-se-iam crescidos enlevos nesssa sua linguagem drummondiana,
firmando-se definitivamente como um marco nesse gênero, em que avultam tantos intelectuais
na terra alencarina.
Essa atual empreitada artística de Neide Azevedo se inicia pelo curtíssimo poema “Descaminhos”, em que a regra absoluta do verso livre fica demonstrada em apenas seis linhas expressivas, com pontos finais. Já no poema “Acendedor de ilusões”, nas três estrofes em quatro versos (Homem de mãos cuidadosas / Homem de mãos calejadas / Homem de mãos acendradas), as vírgulas e os pontos finais se mostram, obviamente, sequentes e conclusivos.
Em sua atraente produção, nos versos de “Seis da tarde”, Neide Azevedo avançaria com seus enlevos, narrando artisticamente “A valsa e o vestido”, “Perplexidade”, “Último canto” e “Teoria dos afetos” – este, assim expresso: “Sinto-te o repetido gesto / Tomo-te a mão que não vejo. / Teus olhos seguem-me os passos / Qual flecha, adelgada e nua...”
Predominando em sua linguagem poética a versificação linear, com os sinais externos já especificados, em algunso dos seus poemas ver-se-ia suceder a curvatura sonoramente contínua, mediante o emprego translinear do enjambement, somente na linha abaixo freando com a interrogação, a exclamação, a vírgula, a reticência ou o ponto final. Com essa propensão linguística, mencionaria como exemplos “O cheiro da infância perdida”, “A ceia”, “A morta”, “Tua palavra” e “Marina”.
Na fonologia poética, a tonância só assinalada no final de cada poema representa uma propensão da maior relevância.
Esse fino labor poético se verá maravilhosamente praticado pela intelectual Neide Azevedo, mencionando-se os poemas “Canção do ano que finda”, “Elegia alvissareira”, “Memória do dia” e “Ritual”.
Mas, já nos poemas “Marina”, “Ausências”, “As doze graças” e “Apelo”, as pausas tonais recebiam a vírgula ou o ponto final, prevalecendo, obviamente, os enlevos tonais e expressivos
da escritora. Com essa dupla propensão, sua linguagem poética se mostraria cada vez mais alicerçada, crescendo em nossa terra alencarina o número de seus admiradores. No poema “Sinos”, a notável Neide Azevedo Lopes se mostraria enlevada com as tendências naturais e encantatórias desse natural e simbólico instrumento universal, expondo doze de suas atribuições sonoras e relevantes. Quanto ao poema “Velas”, já nos seus primeiros quatro versos ficaria ressaltada a projeção natural de “Sete montanhas...” Lindas, lúcidas e fugidias, em seus três versos finais, assim defindos: “Múltiplos brilhos / Pontilhando em clarões / Nossos caminhos”. Transferindo esses enfoques para o “Mapa dos afetos”, em suas linhas expressivas ver-se-ia exposta mais uma expressividade poética da autora, somente o seu último verso ganhando o sinal gráfico da reticência. Já, no poema seguinte, “Menina Glória”, em seus quatro duplos contextos expressivos somente ver-se-ia um ponto final e uma conclusiva reticência. E, em mais este poema “Silêncios e atalhos”, em suas duas últimas estrofes é que eram impostas duas vírgulas internas, predominando o marcante olhar da criatividade.
Com a leitura dos demais poemas dessa “Teoria dos afetos”, ver-se-ia crescida a modernidade da poetisa Neide Azevedo. Sem nenhuma esnobação artística, com a editoração deste atual acervo, sua jornada acadêmica se mostrará plenificada. Historicamente, este será um grande marco da glorificação intelectual.


(Jornal Diário do Nordeste - 25/4/2010)