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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

À MEMÓRIA DE HILNÊ COSTALIMA



A Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - AJEB-CE - vem manifestar sua tristeza, em razão do falecimento de sua sócia efetiva, Hilnê Costalima, ocorrido dia 16 de janeiro deste ano.
E, para rememorar sua vida de escritora entre nós, sua personalidade, seu amor à literatura, postamos, de autoria de Giselda Medeiros, o ensaio "Memória Rebelde".

  
Memória Rebelde
Giselda Medeiros

              Afonso Arinos de Melo Franco assevera em seu livro A Alma do Tempo (Rio de Janeiro: J. Olympio, 1961) que as memórias são a reelaboração de um mundo extinto, mas nem por isso menos real.
                   Oportuna nos é a citada assertiva quando nos deparamos com Memória Rebelde Fortaleza, Editora ABC,1999), o terceiro livro da lavrense Hilnê Costalima, cujo testemunho, de indiscutível teor sócio-humanístico, nos traz à tona um registro de personagens que se haviam perdido ao longo da voragem do tempo. E quis a Autora, como sagaz observadora do fato sociológico, resgatar com a expressividade de autêntica memorialista fatos relacionados com essas personagens, realmente, hoje extintas, mas reelaboradas ali com precisa realidade, conforme atestam seus relatos.
                   O mais importante, contudo, dessas memórias é que a Autora, longe de ir buscar nos corredores do tempo personagens ilustres que se enfileiram nas galerias honoríficas da história de sua cidade, mergulhou, ao contrário, no painel de homens e mulheres que, em sua simplicidade humana, profundamente marcados pelas contradições do meio e do tempo, desempenharam, dentro de seu contexto, papéis relevantes na construção das Lavras de ontem. E registre-se que muitos deles deixaram sementes que, dando continuidade ao labor de seus ancestrais, estão ativamente colaborando para o desenvolvimento das Lavras de hoje.
            O processo narrativo de Hilnê Costalima, vigoroso em toda a extensão do livro, leva-nos a sentir suas personagens transtextualizadas em ações, cujos conflitos dão-lhes uma atmosfera de significados racionais, plenificando-as em sua perspectiva ontológica. É assim, pois, que nos chegam do passado, ressuscitadas através da palavra engenhosa de sua recriadora, figuras indeléveis, como: Xavier, Joana Macaúba, Joaquina e Gregório, Vicente Paroca, a Velha Deota, Minervina, Chico Caboré, Rosina, Maria Luzia, Mariguêta, Mestre Claudemiro e Maria Norvina. E, com a mesma clareza de imagem, profundamente impregnada de forte amor telúrico, mergulha a Autora nas águas do caudaloso rio das lembranças para evocar, com relevo e profundidade, a visão das saudosas moagens de cana-de-açúcar, a dinamicidade das brincadeiras de rua e dos casamentos matutos, a poesia bucólica dos banhos no Gueguel e dos bailes improvisados, o sentimento religioso, fortemente impregnado no homem e na terra, registrado em “Os Leilões do Padroeiro e em “A Semana Santa era assim”.
                   Memória Rebelde nos dá, pois, uma contribuição da maior relevância à análise sociológico-humana, quando testemunha a fortaleza indômita da alma popular. E, sendo Hilnê Costalima, além de investigadora do fato social, exímia artista das letras, sabe muito bem que a linguagem é a roupagem do pensamento”. Por isso, trabalha-a com o cinzel generoso de sua inteligência, dentro de um estilo elegante, disciplinado, colorido, recheado de  observações de cunho sócio-filosófico, imprimindo à obra o senso de valorização da grandeza humana, o que faz transcender o caráter de pura subjetividade.
                   Escritora de grande sensibilidade artesanal, já demonstrada em Momentos (1990) e Outras Janelas (1994), Hilnê Costalima sabe também como preparar seus leitores para a decodificação de sua mensagem, induzindo-nos a descobrir a essência  de nossa própria condição humana.
                   O amor às Lavras da Mangabeira e a ternura estampada ao relatar os fatos ocorridos, exorcizando-os de sua memória, que teima em reelaborá-los compulsivamente, fazem desse seu mais recente livro, a par da beleza gráfica, uma obra de inquestionável valor, haja vista ser ele, reafirmamos,  evocador do forte conteúdo dimensional do homem, como ser ontológico, dentro de sua problemática existência, da qual sabemos, jamais, mesmo com o avanço da tecnologia, poderá ser usurpada a liberdade de revivenciar, de rememorar, de reelaborar  o passado, pois somente assim, o homem reaprende e cresce em sua vertical ascendência.
                   E, em verdade, é esse o objetivo maior de Hilnê, em sua obra: brigar pelo direito à liberdade de lembrar, de evocar, para que seja preservada nossa própria história, conforme ela mesma afirma em seu livro: sem memória as idéias perder-se-iam no limbo do esquecimento e os próprios nexos do saber desapareceriam, inapelavelmente.
                   Sendo assim, Memória Rebelde vem reafirmar que a história de qualquer povo em sua dialética é feita na proporção exata da dimensão e da complexidade de mitos e realidades, de juízos e contradições internas.
                   Por isso, para deleite dos amantes da boa leitura, recomendamos esta agradabilíssima obra, que tenho o prazer de apresentar, obra em que vislumbramos personagens limpas, fotografadas sem dissimulação, sem hipocrisia, pela transparência da câmera de Hilnê Costalima, sem dúvida, uma das mais expressivas figuras da literatura cearense, quer pela agudeza de inteligência, quer pelo lastro cultural que ostenta, quer pelo forte senso de artesã da palavra, que a deixa à vontade no exercício de sua missão de escritora a inundar o universo literário com fragrâncias de signos e metáforas.
                   Por tudo isso, aplausos e louvores para Hilnê Costalima e seu Memória Rebelde, pois vêm sabiamente reiterar o pensamento de Walter Benjamin, quando diz: “Quem não pode lembrar o passado, não pode sonhar o futuro e, portanto, não pode julgar o presente”.
                   Sendo assim, sigamos-lhe o exemplo: vivamos, evoquemos, e estaremos exercitando formas de conhecimento, condições de nossa realidade, delineando, desse modo, nossa atuação no processo histórico das transformações das sociedades humanas, não com a empáfia da genialidade, mas, simplesmente, como um ser finito, temporal e histórico que somos.

(Do livro "Crítica Reunida")