SONETO DECASSÍLABO PORTUGUÊS
INVERNO INESPERADO
Vianney Mesquita*
No coração do inverno, a única folha do ramo luta contra o vento
[STEFAN THEODORU].
Em trevas de estampidos e relampos,
[1]
Trovões bravios bem
enfurecidos,
Deixavam o nobre e o vil
espavoridos [2],
Aterrando, inclusive, os
pirilampos.
Céu desestrelejado, escassos
campos,
Bichos inquietos, homens
escondidos,
Saraiva densa de pétreos caídos
Sobre o bestunto da gente sem
trampo.
Apagadas as lampas da
cidade [3]
Então, no escuro, na
infecundidade
Sobravam vivas, no aparente
inferno,
Sem energia, nem imunidade,
Pessoas jovens que, na
realidade,
Jamais tinham topado intenso
inverno.
Obs.
1 Vocábulo em voga desde 1589
(Cf. Arrais).
2 Anima nobili e anima
vili [Homem e animal inferior].
3 Palavra usada, principalmente
em Portugal, desde o Sec. XIV (Cf. FichVPM).