sexta-feira, 15 de abril de 2011
CEARENSE TEM MAIOR SITE LITERÁRIO- VITOR CASIMIRO
Já deve ter acontecido com você. Você vai a uma livraria à procura de um livro e não encontra. Vai à outra e nada. Acaba desistindo, sem entender como logo aquela obra-prima da literatura não se encontra nas prateleiras das lojas. Resiste à tentação de levar para casa um best-seller; afinal, se tiver sorte achará o que procura em um sebo, virando e revirando uma bagunçada montanha de livros. Bem, mas se for um livro de poesia, então, sua jornada está quase sempre fadada ao fracasso. Cansado de garimpar nas livrarias e sebos, o cearense Soares Feitosa, que mora em Salvador desde 1994, recorreu à Internet para ler as obras de seus autores favoritos.Não adiantou. Confiante de que, na rede mundial de computadores, não teria dificuldades para achá-las, tomou um susto quando soube da escassez de obras de poetas em língua brasileira. Mas isso já faz algum tempo e esse problema não mais existe. Hoje ele é o responsável pelo maior site (home-page) exclusivamente sobre literatura do mundo - o Jornal de Poesia . De acordo com Soares Feitosa, se levarmos em consideração o fato de que o site tem um único tema - a poesia em língua portuguesa -, o Jornal de Poesia é, sem dúvida, um dos maiores endereços eletrônicos do mundo - tarefa que levou pouco mais de oito meses para concretizar. ``Ele é como o Rio Amazonas, tudo que se falar sobre ele será pouco'', diz orgulhoso do filho pródigo. Não é nenhuma história de pescador, gabando-se do seu feito. São mais de 20 mil páginas de informação. Lá, autores desconhecidos, que enviam seus primeiro poemas via internet, recebem o mesmo destaque que Castro Alves, Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Luís de Camões, Augusto dos Anjos ou Gerardo Mello Mourão, poetas que têm suas obras completas em algum lugar desta imensa biblioteca virtual. São aproximadamente 1.200 poetas ao todo, entre brasileiros, portugueses, angolanos, de Moçambique, Guiné-Bissau e o longínquo Timor Leste. ``Fazemos a elegia ao desconhecido'', diz Feitosa, que se recusou a implantar um sofisticado programa de busca no jornal. ``O importante é procurar, aí você se sente convidado a conhecer os autores que jamais chegaria a ler se não fosse o jornal'', explica. Entre os ilustres desconhecidos, pode-se encontrar, inclusive diversos cordelistas nordestinos. E o armazém de poesia não pára de crescer. O Jornal de Poesia recebe de 20 a 40 mensagens por dia, dos quatro cantos do mundo, nas quais estão sobrando elogios. Poeta, escritor e crítico literário da importância de Jorge Amado,Ferreira Gullart, Wilson Martins,Millôr Fernandes e Roberto Pompeu de Toledo, já demonstraram admiração pelo o trabalho, que ocupa todo o tempo livre Soares Feitosa. Atualizado diariamente desde sua criação, em 13 de junho de 1996, o Jornal de Poesia é a soma de muito esforço com amor à arte. Soares Feitosa, nunca ganhou nenhum tostão pelo que faz. O canadense Mr. Richard (cujo sobrenome Feitosa diz desconhecer) é o dono do provedor de acesso à Internet e não lhe cobra absolutamente nada. ``Ele é um mecenas. O custo mensal de um provedor seria de 2 mil reais. ``Fico emocionado. Até em Teresina, com aquele sol de rachar, você pode ler o Navio Negreiro, de Castro Alves, novinho'', brinca. Além da publicação de poesia, há um grupo de discussão sobre o tema, a home-page da Academia Cearense de Letras, em fase de construção, e duas seções destinadas à poesia infantil, de autores até 12 anos, a primeira, e entre 12 e 17 anos, a outra. Na seção de autores até 12 anos, Feitosa destaca a poeta Maria Fernanda Mendonça Costa, de 8 anos. A garotinha, de Dois Córregos, São Paulo,chegou a ser comparada a Fernando Pessoa. Um dono de uma usina de cana-de-açúcar e também poeta, daquela cidade, criou a Usina dos Sonhos, contratou 70 professores e incentivou o ensino da poesia. ``É um projeto assombroso. Os poetas nascem da terra. Quem é que garante que esta menina não é o próximo Castro Alves'', diz, entusiasmado com as potencialidades da Internet e do computador para a produção literária das novas gerações: `Meu orgulho vai ser ouvir, daqui a 20 ou 30 anos, alguém me dizer: minha primeira poesia foi publicada no Jornal de Poesia`. Mas quanto ao futuro do livro, Feitosa é categórico: `O jornal não é para concorrer com o livro. O livro é um prazer, ninguém pode tirá-lo; o livro você pode tocar... O Jornal de Poesia só dá a primeira informação, o impacto, desperta o interesse. Se você não gostar da tela, imprima, risque, rabisque, mas leia. O objetivo do jornal é ressuscitar certos poetas que padecem em obras com edições domésticas, de pequena circulação, que ninguém mais encontra depois de algum tempo`. Taí outra vantagem: um edição por menor que seja não sai por menos de 4 mil reais, segundo Feitosa. ``E o que o autor ganha no lançamento, gasta no coquetel'',. De uns tempos pra cá, os escritores têm encotrado, em home-pages particulares, uma alternativa para fugir destas edições domésticas ou independentes e do mercado editorial precário no que diz repeito à poesia. É o caso da home-page Livro Livre , coordenada por Gustavo Arruda, que oferece livros de graça. Há a home-page do Grupo Cultural Pórtico , da Bahia, destinada à divulgação de novos autores; o Jornal de Contos, organizado por Hélio Pólvora, e o jornal Blocos , editado por Leila Míccolis, que recentemente chegou à Internet, após vários anos de publicações mimeografadas e xerocadas. Para alguns, a experiência tem dado muito certo. A home-page funciona como trampolim para edições impressas.`O que falta à poesia é divulgação, não leitores`, conclui Feitosa. (in Vida & Arte, Jornal O Povo, 25 de fevereiro)
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