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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

HOMENAGEM PÓSTUMA À EBE BRAGA, SÓCIA HONORÁRIA DA AJEB, POR GISELDA MEDEIROS

“EBE BRAGA - UMA HISTÓRIA DE VIDA DEDICADA À EDUCAÇÃO”


     “Como são belas as obras de Deus. E, todavia, delas não vemos mais                                          
 do que uma centelha.” (Eclo: 42,23)
                                                                     
                                           
                   Oscar Wilde, célebre escritor inglês, em uma de suas felizes inspirações, assim se expressa: “A vida, assim como a pintura, a escultura e a poesia, também possui suas obras-primas.”  Partindo dessa assertiva, procuraremos mostrar, ao longo desse trabalho, a perfeita identidade entre o que foi dito e a professora Ebe Braga, motivo dessa monografia e que, com efeito, constitui uma perfeita obra-prima da vida.
                   São 10 de julho de 1925. Na pacata Fortaleza, a casa número 38 da rua Solon Pinheiro ilumina-se. O casal, Anastácio Braga Barroso e Edith Dinah da Costa Braga, contemplam eufóricos a concretização do amor: Maria Ebe da Costa Braga, a menina que, recebendo no nome a força e a imortalidade do vinho dos deuses, é agraciada, por isso, com o dom de continuar servindo aos humanos o vinho da sabedoria durante toda a sua vida.
                   Sensível e inteligente, aos sete anos, é matriculada no Curso de Alfabetização da Escola Normal Pedro II, hoje Colégio Estadual Justiniano de Serpa, época em que inicia também seus estudos de piano. Ensaiava-se, aqui, a definição de sua existência sequiosa de luzes, de cultura, de disciplina, traçada pelos pais, ricos de preceitos humanísticos e filosóficos.
                   Em 1937, freqüenta o Curso de Admissão do Colégio Farias Brito, sendo transferida, em 1940, para o Colégio Bennett, no Rio de Janeiro, onde permanece até o ano seguinte, sem abandonar as aulas de piano, ministradas, ali, pela professora Joaquina Mota, do Instituto Nacional da Música. Já, a essa época, faz parte do coral, regido pelo maestro Francisco Minhone.
                   Em 1942, Fortaleza a recebe de volta e, nesse ano, conclui o curso ginasial na Escola Normal Pedro II. No seguinte, retorna ao Rio de Janeiro, onde se dedica a aulas de canto lírico. No entanto, é forçada a interrompê-las, em virtude de ter que voltar a Fortaleza para a celebração de seu casamento com José Parente Frota,  passando a assinar-se Maria Ebe Braga Frota. 
                   O elo entre Ebe e a Educação começa a se fortalecer, imprimindo nela um compromisso de ordem doutrinária, acentuando a formação de algo luminoso e profundo: uma responsabilidade infrene. Isso se depreende do fato de, aos vinte e três anos, ser ela nomeada professora de aulas suplementares de Economia Doméstica na Escola Normal Pedro II.
                   Em 1950, matricula-se no Colégio São José para cursar o segundo ano científico. Conclui o curso no ano seguinte. Volta aos estudos de canto lírico com a professora Marina Medeiros.
                   Sua índole, marcada já pelo selo da docência, fá-la matricular-se, em 1951, no Colégio São José para cursar o segundo ano Normal, vindo a concluir o curso em 1952, sendo escolhida a oradora da turma.
                   Não é de se estranhar que, já possuída pela ortodoxia dos princípios filosóficos que procuram nortear a ética do ser humano, viesse ela a enveredar pelo influxo desses princípios. Assim é que, em 1953, submete-se ao vestibular para o Curso de Filosofia, na Faculdade Católica de Filosofia, tendo atingido a maior nota geral. Em virtude dessa conquista, é convidada a lecionar Psicologia, História e Filosofia da Educação no Colégio São José. É também nomeada professora de Economia Doméstica no Ginásio Municipal de Fortaleza.. E, em 1955, vai lecionar Psicologia e Sociologia no Colégio Santa Lúcia.
                   A difusão da capacidade intelectual de Ebe Braga, personificando o abstrato do “homo sapiens”, era um requisito indispensável para que se tivesse a jovem e inteligente professora integrada ao quadro docente dos bons colégios. Desse modo, em 1956, ano em que recebeu o grau de Licenciatura Plena em Filosofia, é nomeada professora interina de Economia Doméstica, na Escola Normal Pedro II, passando ao cargo de Professor Catedrático da mesma disciplina, através de Concurso Público, assim como sua nomeação para Técnica de Educação.   
                     De 1957 a 1960 passa a ser membro do Conselho Superior do Centro Estudantil Cearense, do qual fora Diretora no período 1953/1956. No intervalo 60/66, exerce as funções de Diretora do Departamento Feminino do Comercial Clube, durante a gestão do professor José Cláudio de Oliveira.
                   Traço escolástico de sua personalidade é a profunda contrição com que exerce seu mister. Difícil ter passado pelas mãos dessa admirável educadora e não ter assimilado o reflexo de sua luminosidade anímica. O ardor com que se reveste para a consecução de seus objetivos é o pano de fundo que lhe determina o caráter de mulher forte, obstinada, persistente e incorruptível. Jamais a abateram as dificuldades. As mais humildes manifestações da vida, os seres desprotegidos, sempre foram motivo de sua acurada filosofia, de sua arraigada filantropia.
                   Em 1958, a antiga Escola Normal Pedro II deixa as dependências do prédio da Praça Filgueira de Melo. Transfere-se, agora como Instituto de Educação, para a rua Graciliano Ramos, no Bairro de Fátima, para dar lugar, ali, ao atual Colégio Estadual Justiniano de Serpa. Nesse colégio, é criado, em 1964, o Curso Clássico, cabendo à Ebe Braga a docência da Sociologia e, em 1968, da Filosofia, disciplinas exigidas pelo vestibular na área de Humanidades.
                   Ebe Braga é um mundo nesse pedaço de natureza. A sua vida, pautada no bem, jamais exigiu recompensas ou glórias. Elas vieram, sim, mas em decorrência de suas atividades, de seu desprendimento, de sua competência. Agiu e age de modo determinado, dentro dos preceitos éticos de sua personalidade. Sempre procurou conduzir os seus discípulos com pertinácia, mostrando-lhes as oportunidades para crescerem e enfrentarem, sem medo, as forças, muitas vezes adversas, do tempo. Era como sempre nos tivesse a ensinar: Caminhar em si mesmo é uma maneira de entender o próximo, ampliar-lhe o rumo, abrir-lhe o universo. Positivamente, nossa ilustre educadora doava-se como caminho, transmudava-se em universo. Não tinha fronteiras. Era notável seu trabalho em sala de aula e fora dela. Sempre programava suas aulas com o amor e a dedicação que tivera desde os primeiros dias. Jamais deixava a rotina empanar o brilho de suas aulas. Para isso, ela estava sempre a buscar maneiras de atrair seus alunos para seqüestrá-los, dóceis e submissos, na cela das informações dos conteúdos didáticos. Disciplinada e disciplinadora.
                   Em 1966, é nomeada professora de História e Filosofia da Educação, bem como de Sociologia, no Colégio Municipal Filgueiras Lima, vindo a aposentar-se no ano de 1987. Matricula-se, em 1976, no Curso de Licenciatura Curta em Teologia, no ICRE, concluindo-o em 1979 e, no ano seguinte, conclui também o Curso de Especialização em Tecnologia Educacional para o Ensino Superior.
                   O peso dos anos,  que imprime em nós um ritmo descendente, não o consegue em relação à ilustre educadora. Pelo contrário, fá-la resistente e incansável. E, para conseguir caminhar com o tempo, sem retrocessos, é mestra e aluna, numa simbiose de amor. Tanto é assim que, após a aposentadoria, quando muitos se acomodam às condições de inatividade, ela não cede. Começa a freqüentar cursos, na ânsia de mais conhecimentos.
                   Um meteoro não pode deter sua vertiginosa trajetória. Desse modo, Ebe Braga conclui, em 1985, com o grau de Licenciatura Plena, o Curso de Ciências Religiosas. Pelo brilhantismo com que sempre se distingue em tudo o que faz, é convidada pelo então Diretor do ICRE, Monsenhor Francisco Pinheiro Landim, a lecionar, ali, a disciplina Introdução à Teologia. Aposentou-se em 1992.
                   Merecedora dos maiores encômios, a professora Ebe Braga recebe, em 1982, a maior comenda na área da Educação: a Medalha Justiniano de Serpa, homenagem de que se orgulha, haja vista o reconhecimento ao seu trabalho.
                   A 6 de junho de 1997, o auditório do Seminário da Prainha, lotado, aplaude de pé a defesa da monografia intitulada O Ecumenismo: Processo Evolutivo, requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Religiosas. Realmente, um trabalho de fôlego, que exigiu cansativas pesquisas, em mais de setecentas páginas. O mais importante, e vale a pena ressaltar, é o alto poder de síntese com que foi apresentado pela ilustre bacharela, num verdadeiro testemunho do seu lastro cultural e humanístico.
                   Eis, pois, em pinceladas reais, os fatos mais importantes da história dessa grande educadora que, sem sombra de dúvida, merece desfilar entre os nomes consagrados da Educação, porque sempre se manteve a serviço dela, enfrentando os obstáculos, os percalços, com a alquimia de sua alma exaltada, enriquecida pela inteligência e pelo amor devotado à profissão, testemunhando, dessa maneira, o espírito forte de uma mulher que, malgrado a suposta fragilidade da espécie, sabe se impor pela inegável competência e conquistar o seu espaço, nada ficando a dever, em termos de cultura e desempenho, ao chamado sexo forte.
                   Por tudo isso, Maria Ebe Braga Frota é, inegavelmente, verdadeira obra-prima da vida.
                   “Labor omnia vincit.”                   
  
                                                                                 
Giselda Medeiros
                                                                                   
 (ex-aluna)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

UM POEMA DE LILA XAVIER

POESIA PERECÍVEL

Minha poesia
Não é sonora
É perecível ao tempo
É metástase no corpo de algum ente.
Sufrágio de outras almas
Que sofreram os horrores
Dos amores perdidos.

Minha poesia
Não é sonora
Ela se constitui do não-sentido das coisas
São frases textuais desconexas
Sem nexo, sem paladar.

Minha poesia
Não é sonora
Ela não passa de efêmera literatura
Composta de tantas palavras
Jogadas ao vento.

Palavras profanas
Recitadas com gritos inaudíveis
Exclusivos, apenas, aos meus ouvidos
E só aos meus ouvidos!
Faço questão da ênfase!

Tais palavras nada, nada poéticas
Pertencem a um magistrado comunista
Trôpego, bêbado
Político, célebre e patético,
Que representa
A rudeza do meu ser...
Vindo à tona e se mostrando
Como um vestido lindo
Que resgata o ego ferido
Num totalitarismo frascário.

Minha poesia
Não é sonora
É trégua entre o “eu” e “eu”
Entre ser e não ser-nada
Apenas desenha o bulício do esferográfico
Que incrementa a pseudo
Imortalidade dos eruditos.

Minha poesia
Não é sonora
Porque alimentada de pretensão sectária,
Do zelo de uma poesia letrada
Que provoca e exorta
Uma compulsão nos militantes.

Os poetas (os verdadeiros) imortais
Escrevem subliminarmente
Em diáfanos dialetos
E, com certeza, estarão vivos
Dentro de mim.

Lila Xavier.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

OS SALMOS: A ANATOMIA DA ALMA HUMANA

03/02/2014

Os salmos constituem uma  das formas mais altas de oração que a humanidade produziu. Milhões e milhões de pessoas, judeus, cristãos e religiosos de todas as tradições, dia a dia, recitam e cantam salmos, especialmente os religiosos e religiosas e os padres no assim chamado “ofício das horas” diário.
Não sabemos exatamente quem seus autores, pois eles recolhem as orações que circulavam no  meio do povo. Seguramente muitos são de Davi (século X  a.C.). É considerado, por excelência, o protótipo do salmista. Foi pastor, guerreiro, profeta, poeta, músico, rei e profundamente religioso. Conquistou o Monte Sion dentro de Jerusalém e lá, ao redor da Arca da Aliança, organizou o culto e introduziu os salmos.
Quando se diz “salmo de Davi” na maioria das vezes significa: “salmo feito no estilo de Davi”. Os salmos surgiram no arco de quase mil anos, nos lugares de culto e recitados pelo povo até serem recopilados na época dos Macabeus no século II.a.C. O saltério é um microcosmo histórico, semelhante a uma catedral da Idade Média, construída durante séculos, por gerações e gerações, por milhares de mãos e incorporando as mudanças de estilo arquitetônico das várias épocas. Assim há salmos que revelam diferentes concepções de Deus, próprias de certa época, como aqueles, estranhas para nós, que expressam o desejo de vingança e o juízo implacável de Deus.
Os salmos testemunham a profunda convicção de que Deus, não obstante habitar numa luz inacessível, está  em nosso meio, morando como que numa tenda (shekinah). Podemos chegar a Ele, em súplicas, lamentações, louvores e ações de graças. Ele está sempre pronto para escutar.
O lugar denso de sua presença é o Templo onde se cantam os salmos. Mas como Criador do céu e da terra, está igualmente em todos os lugares, embora nenhum possa contê-lo.
Com razão, se orgulhavam os hebreus dizendo: “ninguém tem um Deus tão próximo como nós”! Próximo de cada um e no meio de seu povo. Os salmos revelam a consciência da proximidade divina e do amparo consolador. Por isso há neles intimidade pessoal sem cair no intimismo individualista. Há oração coletiva sem destituir a experiência pessoal. Uma dimensão reforça a outra, pois cada uma é verdadeira: não há pessoas sem o povo no qual estão inseridas e não há povo sem pessoas livres que o formam.
Ao rezar os salmos, encontramos neles a nossa radiografia espiritual, pessoal e coletiva. Neles identificamos nossos estados de ânimo:  desespero e alegria, medo e confiança, luto e dança, vontade de vingança e  desejo de perdão, interioridade e fascinação pela grandeza do céu estrelado. Bem o expressou o reformador João Calvino (1509-1564) no prefácio de seu grandioso comentário aos salmos:
“Costumo definir este livro como uma anatomia de todas as partes da alma, porque não há sentimento no ser humano que não esteja aí representado como num espelho. Diria que o Espírito Santo colocou ali, ao vivo, todas as dores, todas as tristezas, todos os temores, todas as dúvidas, todas as esperanças, todas as preocupações, todas as perplexidades até as emoções mais confusas que agitam habitualmente o espírito humano”.
Pelo fato de revelarem nossa autobiografia espiritual, os salmos representam a palavra do ser humano a  Deus e, ao mesmo tempo, a palavra de Deus ao ser humano. O saltério serviu sempre como  livro de consolação e fonte secreta de sentido, especialmente quando irrompe na humanidade o desamparo, a perseguição, a injustiça e a ameaça de morte. O filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) deu este insuspeitado testemunho: “Das centenas de livros que li nenhum me trouxe tanta luz e conforto quanto estes poucos versos do salmo 23: O Senhor é meu pastor e nada me falta; ainda que ande por um vale tenebroso, não temo mal nenhum, porque Tu estás comigo”.
Um judeu, por exemplo, cercado de filhos, era empurrado, para as câmaras de gás em Auschwitz. Ele sabia que caminhava para o extermínio. Mesmo assim, ia recitando alto o salmo 23: “O Senhor é meu pastor… Ainda que eu ande pela sombra do  vale da morte, nenhum mal temerei, porque Tu estás comigo”. A morte não rompe a comunhão com Deus. É passagem, mesmo dolorosa, para o grande abraço infinito da paz eterna.
Por fim, os salmos são poesias religiosas e místicas da mais alta expressão. Como toda poesia, recriam a realidade com metáforas e imagens tiradas do imaginário. Este obedece a uma lógica própria, diferente daquela da racionalidade. Pelo imaginário, transfiguramos situações e fatos detectando neles sentidos ocultos e mensagens divinas. Por isso dizemos que não só habitamos prosaicamente o mundo, colhendo o sentido manifesto do desenrolar rotineiro dos acontecimentos. Habitamos também poeticamente o mundo, vendo o outro lado das coisas e um outro mundo dentro do mundo de beleza e de  encantamento.
Os salmos nos ensinam a habitar poeticamente a realidade. Então ela se transmuta num grande sacramento de Deus, cheia de sabedoria, de admoestações e de lições que tornam mais seguro nosso peregrinar rumo à Fonte. Como bem diz o salmista: “quando caminho entre perigos, tu me conservas a vida… e estás  até o fim a meu favor” (Salmo 138, 7-8).


Leonardo Boff é autor de  O Senhor é meu Pastor: consolo divino para o desamparo humano, Vozes 2013.

(in: leonardoboff.com)