A
DIMENSÃO POÉTICA DE FRANCISCO CARVALHO
Vládia Mourão*
Este
título tão abrangente comportaria um ensaio, mas não é este nosso intuito. Na
verdade quando falamos de dimensão queremos apenas expressar a grandeza da
poética de Francisco Carvalho.
Francisco
Carvalho, que nasceu na cidade de Russas, em 11 de junho de 1927 e faleceu em
Fortaleza no dia 5 de março deste ano, é uma das vozes mais expressivas da
literatura cearense.
Donatário
de vasta obra, desde seu primeiro livro intitulado Cristal da Memória, publicado em 1955, elencando-se a seguir Canção atrás de Esfinge (1965), Do Girassol e da Nuvem (1960), O Tempo e os Amantes (1960), Dimensão das Coisas (1967), Memorial de Orfeu (1969), Os Mortos Azuis (1971), Pastoral dos Dias Maduros (1977), As Verdes Léguas (1979), Rosa de Eventos (1982), Quadrante Solar (1982), As Visões do Corpo (1984), Barca dos Sentidos (1989), Rosa Geométrica (1990), Exercícios de Literatura (1990), O Tecedor e sua Trama (1992), Crônica das Raízes (1992), Flauta de Barro (1993), Galope de Pégaso (1994), Sonata dos Punhais (1994), Artefatos de Areia (1995), Textos e Contextos (1995), Rosa dos Minutos (1996), Raízes da Voz (1996), Os Exílios do Homem (1997), Girassóis de Barro (1997), Romance da Nuvem Pássaro (1998), A Concha e o Rumor (2000), O Silêncio é uma Figura Geométrica (2002), Centauros Urbanos (2003), Memórias do Espantalho (2004), Corvos de Alumínio (2007) e Mortos não jogam Xadrez (2008).
O
poeta Francisco Carvalho, que foi vencedor do Prêmio Nestlé de Literatura, em
1982, com o livro Quadrante Solar e do
Prêmio da Fundação Biblioteca do Rio de Janeiro, em 1997, com Girassóis de Barro, surgiu na literatura
em pleno domínio da geração de 45. Mesmo assim, o poeta não se vinculou, de
forma rígida, a nenhum movimento estético coletivo. Seus livros trazem, de modo
geral, as experiências inovadoras do modernismo, como a desarticulação da
estrutura do poema, mas apresentam um certo rigor formal presente no parnasianismo,
bem como o enigma do simbolismo. Na verdade, ele conhece todas as técnicas da
arte poética, e utilizou todas em sua poesia.
Como
dimensionar a poesia de Francisco Carvalho? Autor de 32 livros, na sua maioria
de poesia e outros de textos diversos (crítica, reflexões sobre literatura,
prosa poética). Poeta de fôlego, trabalhou incansavelmente por mais de 50 anos,
feito comparável em nossa literatura somente a Carlos Drummond de Andrade. Isto
se levássemos em conta apenas o critério quantitativo, mas em relação à
qualidade, podemos afirmar que se trata de um projeto literário coerente, desde
sua estréia até seu último livro publicado.
Em
1996, o Poeta foi escolhido para participar do conjunto de dez autores
indicados ao Vestibular da Universidade Federal do Ceará, com o livro Raízes da Voz.
Em
2004, este mesmo livro chamaria a atenção do cantor e compositor cearense
Raimundo Fagner, que lançou o disco “Donos do Brasil”, musicando alguns poemas
de Francisco Carvalho, dentre eles “O bicho homem”, “Cesta básica”, “Esse touro
vale ouro”.
A
poesia de Francisco Carvalho é genuína, original, única e universal. É como
disse, certa vez o escritor José Alcides Pinto: “nosso poeta canta para o mundo
inteiro, para os quatro continentes, para todas as nações e para todos os
povos. Sua linguagem é universal, desconhece as fronteiras e, sendo o que é, um
poeta legítimo, tem seu lugar assentado no tempo de hoje e da posteridade”.
Sobre
os temas mais recorrentes na poesia de Francisco Carvalho sempre apontamos a
presença muito forte da temática social, quando o autor escreve para despertar
consciências, criticando o posicionamento das elites responsáveis pela
permanência das desigualdades sociais: “vagos vêm vindo os pobres / rasos que
roçam os lagos / ricos do que não têm / Vêm dourados de andrajos / saudosos de
ninguém”.
A
seguir vêm as angústias do homem, os questionamentos existenciais, como se
observa através do poema intitulado “Os Acontecimentos”, inserido no livro As Visões do Corpo: “Chega um tempo em
que os acontecimentos desabam / poeira invisível / sobre os teus cabelos / Um
momento em que os fatos governam o teu destino e o teu sexo / tua alma, tua
voz, tua sombra / e até a solidão dos teus passos dentro da noite”.
Recorrentes
também são as questões de ordem metafísica, ou mesmo a morte como condição
substancial à vida, bem como as preocupações com o fazer poético, através da
elaboração e agrupamento das palavras que compõem o poema: “A hora do poema é a
hora de partir para longe / e de voltar para perto / A hora de entrar e de sair
/ A hora de acender e de apagar / A hora de germinar do lado direito / A hora
de reverdecer do lado esquerdo / A hora do poema é a hora de morrer e ressuscitar”.
A palavra é a raiz de tudo, é o alicerce de todo o processo construtivo do
poema. Leitor rigoroso, trabalhador metódico, artífice da palavra, usa o verbo
e o adjetivo com competência.
Não
poderíamos deixar de ressaltar a importância da temática da infância em sua
obra, na linha de retorno às suas raízes, sem precisão temporal, o poeta refaz
os caminhos perdidos numa procura obstinada pela infância, pelo reencontro com
o eu, como profere “há rumor de infância soterrada no coração”. É o homem
buscando reconstituir o seu primeiro mundo, onde nasceu essa poesia meio
pastoril, que se entrelaça com a infância. Aliás, as experiências vividas ou
imaginadas têm importante papel na formação do poeta adulto, justamente porque
permanecerão armazenadas para, mais tarde, se transformarem em matéria-prima a serem
processadas para auxiliar na composição de sua poesia.
Nesse
sentido, podemos afirmar que a infância, a memória, os fragmentos do passado, as
lembranças do pai, da cidade em que nasceu, tudo está ali misturado, amassado
como o barro, um vaso de barro de que é feito o homem, um vaso de Deus, este é
o Poeta Francisco Carvalho.
*Professora de Literatura e
autora de Três Dimensões da Poética de
Francisco Carvalho.
A Mesa Diretora da Sessão
A palestrante Vládia Mourão à Tribuna
Giselda Medeiros e Ana Vládia Mourão expondo suas obras
Nirvanda Medeiros, Giselda Medeiros e Ana Vládia Mourão, sendo agraciada com um mimo
J Udine, Cícero Modesto e Maria do Carmo Fontenelle
Rejane Costa Barros homenageia as mães que já se encantaram
A nova sócia Selma Cabral faz uma homenagem bíblica às mães
Os ajebianos: J Udine, Cícero Modesto e Maria do Carmo Fontenelle
A palestrante ladeada por Cícero Modesto e Giselda Medeiros
Ana Vládia e o grupo dos ajebianos
Giselda Medeiros agradece em nome da AJEB-CE.
Foi muito bom ouvir,mais uma vez,a palestra abalizada da Professora Ana Vládia, sobre a poética de Francisco Carvalho (pois estivera no lançamento dessa sua notável obra, por ocasião do lançamento do seu livro, há mais de uma década, no Estoril). A Professora Ana Vládia discorre brilhantemente sobre o nosso maior poeta, do qual sou fã de carteirinha, uma vez embasado na leitura profunda que fez da obra do grande e saudoso vate. Sua palestra, na AJEB, foi maravilhosa, merecendo, de nossa parte, todos os encômios, todos os aplausos. Parabéns, professora, por você haver nos revelado as gigantescas dimensões poéticas deste gênio cearense da Poesia, possuidor de um estro universal, Francisco Carvalho. Grande e afetuoso abraço!
ResponderExcluirj. Udine.
Você disse muito bem, Poeta. Sintetizou o que todos queríamos dizer.
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