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sexta-feira, 6 de junho de 2014

GERALDINA AMARAL - UMA AJEBIANA DE OURO


Hoje, 6 de junho de 2014, Gizela Costa, Rose Sendy e eu, deslocamo-nos até Caucaia, para rever, matar saudades de nossa querida Geraldina Amaral, sócia fundadora da AJEB, tendo-a, inclusive, representado em Cannes, na França, em encontro internacional da AMMPE (Asociación Mundial de Mujeres Periodistas y Escritoras), única jornalista brasileira presente àquele evento.
Geraldina Amaral, atualmente, está com 89 anos. Infelizmente, o tempo desceu sobre ela com sua fúria terrível, desmoronando-lhe a consciência. Mas quem conheceu Geraldina Amaral não vai jamais esquecer a sua inteligência, o seu amor às artes, à leitura, à escrita, ao jornalismo, à AJEB, aos amigos.
Transcrevemos, abaixo, um de seus textos, em que podemos sentir a suavidade de sua pena e o encantamento pela palavra.

 Luzes, Luzes, Luzes
Geraldina Amaral

            Quando as luzes se apagaram, fiquei sem pensar. Naquela noite, eu precisava de uma iluminação poderosa que me ajudasse um pouco a manter meu cérebro fora do caos de que estava à beira, quase pronta a cair-lhe no mais íntimo dos recantos. Sim, o caos me esperava ansiosamente, como o amante à criatura desejada. Não me engano, porque “senti” que tudo em meu espírito ameaçava cair, ruir. “Senti”!...
            Reportava-me há dois meses antes: aquele cálice de “Vermuth” que bebemos (eu e você), entre considerações sobre arte e vida, num hesitante diálogo em que nos aproximávamos a medo, esperando por uma única palavra...
            Para mim, aquela tarde foi um delicioso inferno, cheia de crepúsculos e ruídos, de amor e desespero. Seus olhos fixavam-se talvez cansados de olhar alguém distante, através do espaço e do tempo. Ah! Como se fatigam, até a exaustão, os olhos amorosos que procuram o seu amor! E os seus olhos estavam assim, quase sem forças, quase não resistindo ao esforço infinito de ver e sentir e contemplar a grande felicidade do amor ausente.
            Entretanto, na ribalta, não chegara luz suficiente para um bom espetáculo, e a semiobscuridade que as velas acesas concediam não me ajudava em nada.
            Ao menos, se pudesse esquecer que atrás dos bastidores só estavam criaturas feitas para o divertimento ao público, sem, no entanto, poder com ele comunicar-se... “Não passavam de títeres sob as ordens de um velho de longos bigodes e barba crescida, destes que fazem medo às crianças...”
            E a luz, porque não voltava a luz? Todos precisavam dela. Sim, todos precisavam dela. Começava em mim a agonia de Goethe. E a luz? Eu precisava dela para deslumbrar-me e esquecer, e esquecer e esquecer...   

         
Geraldina Amaral – jornalista, escritora e tradutora. É graduada em Letras Neolatinas. Foi professora do Curso de Cultura Hispânica da Universidade Federal do Ceará e de muitos colégios da capital cearense. Faz parte da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno. Sócia fundadora da Academia de Letras e Artes de Caucaia. Escrevia uma coluna semanal no Jornal “O Estado”. É sócia da AJEB-CE, da qual recebeu o honroso título de “Ajebiana de Ouro”. Participa de várias coletâneas, dentre as quais “Policromias” e “AJEB Letras” (antologia nacional). 

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