sábado, 19 de janeiro de 2019
UMA HOMENAGEM PÓSTUMA AO POETA, CRONISTA E TROVADOR WALDIR RODRIGUES
A ILUSÃO
DO ETERNO
Giselda Medeiros
Qualquer pessoa, por menor que
seja sua sensibilidade, não deixará de emocionar-se com a leitura de “A Ilusão
do Eterno”, livro de crônicas do, também poeta, Waldir Rodrigues. Isso porque o
autor deixa sua pena explorar o mundo fantástico de sua interioridade e,
através de suas esplêndidas jazidas, permite-nos descobrir caminhos, pelos
quais vamos, passo a passo, embrenhando-nos pelos labirintos de sua escritura
elegante, leve, equilibrada em frases curtas, onde as ideias se fundem
respaldadas em argumentos lúcidos. Por conseguinte, tudo no livro se multiplica
em grãos de sensibilidade artística, em contínua amostragem analítica do
conteúdo existencial do ser.
Fernando Pessoa nos assevera: “A
espantosa realidade das coisas é a sua descoberta de todos os dias”. E Waldir
Rodrigues sabe que o ser humano é cúmplice dessa espantosa realidade. Por isso,
procura (re)descobrir o cotidiano da vida, com sua palavra tecida na mais fina
gaze poética que, como ele mesmo afirma, “é grande como o homem e eterna
como Deus”.
Suas
crônicas revelam a perplexidade do homem ante a contradição de sua essência
corpo/espírito, efemeridade/eternidade, niilismo/sublimidade. E é integrado a
esses binômios que Waldir Rodrigues, em uma das mais emotivas crônicas do
livro, “Rondó para o Meu Pai Morto”, assim divaga: “Na tua insólita viagem,
deixaste um raio de luz no espaço azul da minha perplexidade. /.../
Evidentemente, tenho a impressão de que morreste antes de tua própria morte,
porque ela tem, para mim, um conteúdo vazio e abstrato. Não sou poeta, mas um
homem cheio de poemas a fazer”.
São os temas universais, como o
amor, a morte, a vida, a saudade, a solidão interior, a solidariedade, as
angústias, a brevidade da vida que preenchem o espaço ilusório de sua
eternidade. Há em suas crônicas uma fusão entre “a realidade espantosa das
coisas” e o vigor saboroso de sua ficção, o que leva o leitor a manter um
constante interesse pelo desenrolar da narrativa e, sobretudo, pelo seu
desfecho, trazendo uma mensagem ora filosófica, ora levemente irônica e
humorística.
Podemos dizer que as crônicas de
“A Ilusão do Eterno” trazem um aprendizado da vida, uma vez que o Autor se
deixa materializar nelas, quer pela evocação de fatos relativos à sua infância,
quer pelas reminiscências de pessoas que lhe povoaram a seara da existência,
enclausurada em conflitos ontológicos. E é, exatamente, isso que nos comove,
nos chama à sua escritura e nos deixa à vontade para, juntamente com ele,
penetrar nos subterrâneos do tempo passado e, daí, compreender melhor o
presente e poder contemplar um mundo futuro mais humano, mais solidário, onde “o
sol viesse antes da aurora”, para assim nos bastarmos “apenas com a
presença do amor, mesmo impossível...”, amor esse que nos conduziria a “mão,
livre e solta, sem rédeas nem limites”, para escrevermos, enfim, a crônica
de nossa vida, numa (re)invenção d’A Ilusão do Eterno.
“Ah! o senso metafísico de
tudo aquilo que poderia ter sido e que não foi... E o papagaio colorido das
minhas ilusões, preso ao frágil cordel da esperança...”
Que belo,
Waldir! Parabéns!
(in: Crítica Reunida)
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