quarta-feira, 6 de maio de 2020
DUAS AJEBIANAS CEARENSES SÃO PREMIADAS EM CONCURSO DA UBE/RJ
AJEB-CE marcou presença no Concurso Virtual Relâmpago da União Brasileira de Escritores - UBE/RJ.
Grecianny Carvalho Cordeiro e Ana Paula de Medeiros Ribeiro, Sócias Efetivas, foram classificadas e premiadas na categoria Crônica do referido Concurso.
Nossos parabéns às premiadas escritoras, cujos textos vão aqui reproduzidos para deleite de nossos leitores.
Parabéns, AJEB-CE!
Grecianny Carvalho Cordeiro
CORONAVÍRUS - O NOSSO RAGNARÖK
Na mitologia nórdica, o Ragnarök ou a Batalha Final seria uma luta intensa e terrível travada entre os deuses e os gigantes, que resultaria no fim do mundo, com a morte de vários deuses, dentre eles, os mais poderosos do panteão nórdico: Odin, Thor e Loki.
Com o crepúsculo dos deuses, o mundo passaria por catástrofes naturais: um inverno longo e rigoroso, sem primavera, outono ou verão; a terra se estagnaria e não produziria mais um alimento sequer, provocando uma fome embrutecedora; o Sol e a Lua escureceriam num breu interminável; as estrelas desapareceriam do firmamento; um grande terremoto abalaria a Terra, que submergiria na água; os animais e seres humanos desapareceriam por completo. Seriam tempos difíceis, com a destruição dos nove mundos de Yggdrasil, a árvore sagrada que sustentava o céu e a terra. Entretanto, como a esperança jamais pode deixar de existir, ao Ragnarök sobreviveria apenas um casal de humanos, responsável por repovoar a terra, Midgard.
Em tempos de coronavírus ou covid19, parece o mundo inteiro viver uma espécie de Ragnarök. Um vírus, portanto, invisível e silencioso, vem se alastrando pelos países dos vários continentes, deixando um terrível rastro de destruição por onde passa, infectando milhares e milhares de pessoas e causando a morte de muitas delas; provocando a derrocada de economias e o colapso do sistema de saúde, inclusive, nos países ditos de Primeiro Mundo.
Quisera fosse a pandemia do coronavírus fruto de nossa imaginação com tendências apocalípticas, ou mesmo, pura e simples mitologia.
Quisera fosse a pandemia do coronavírus um terrível pesadelo do qual pudéssemos acordar no dia seguinte e ver que o mundo continua tal qual deixamos antes de dormir, as pessoas seguindo para o trabalho, as crianças indo para as escolas, os turistas passeando despreocupados pelos pontos turísticos, o comércio e a indústria funcionando a pleno vapor, a vida seguindo seu curso normal...
Mas o coronavírus nos trouxe um imprevisível Ragnarök, capaz de mostrar o quanto somos vulneráveis enquanto seres humanos, o quanto precisamos um do outro, o quanto a atitude de um reflete em todos os outros, o quanto tudo é efêmero e que a nossa rotina, até então considerada enfadonha, pode nos parecer melódica, quase poética.
Esse Ragnarök epidemiológico será a batalha final da humanidade e a sua luta pela sobrevivência contra um inimigo invisível e possante, a desafiar a ciência, a tecnologia, a economia, o sistema de saúde e, sobretudo, nossa condição de seres humanos que precisam se solidarizar na adversidade e se unir em meio ao caos.
O crepúsculo dos deuses, quem sabe, se transformará na alvorada de um mundo bem melhor para se viver.
É preciso crer.
Ana Paula de Medeiros Ribeiro
Auris asinum: o vírus letal
Era 2070. Naquela tarde, todos os diretores receberam o aviso eletrônico sobre a reunião extraordinária. Em poucos minutos, todos já estavam presentes, graças ao dispositivo de transporte que digitaliza cada um dos 6,7 bilhões de bilhões de bilhões de átomos e, pela internet, enviava uma cópia da pessoa para o local desejado. Rapidamente, as cópias digitalizadas em altíssima resolução estavam todas sentadas ao redor da grande mesa de cristal líquido colestérico, uma mobília rústica, herança de anos atrás.
O tom grave do chefe, ao iniciar a reunião, deu a entender que o assunto não era nada bom. E, de fato, não era! Ele iniciou com a seguinte notícia:
_ Meus caros, como é do conhecimento de todos, há um vírus que está para chegar em nossa cidade. O Auris Asinum (nome dado por ter a forma de orelha de burro) é um vírus letal que está destruindo todos os computadores do mundo. Não há nenhuma forma de contê-lo. A contaminação é rápida, basta o usuário interagir, de qualquer modo, com um computador infectado. Muitos deles não apresentam defeitos, funcionam normalmente e passam o vírus para outros, destruindo toda a memória e impedindo qualquer funcionamento. O mundo todo está em polvorosa e, aqui em nossa instituição de ensino, devemos tomar as medidas cabíveis.
Os diretores não se entendiam entre si. Uns até chegaram a dizer que era precipitação falar daquele problema porque não havia sido detectado nenhum computador infectado na cidade ainda.
Vinte e quatro horas depois, centenas de computadores estavam apresentando sintomas do vírus. A cidade virou um caos!
O chefe novamente convocou o grupo de diretores para decidir sobre as medidas. Interessante foi perceber que os mesmos que disseram, um dia atrás, que era precipitado falar do problema, diziam ali que era muito tarde para tomar as providências.
A situação posta à mesa foi sobre como iriam acontecer as aulas dos estudantes, uma vez que muitos dos computadores estavam infectados e sem funcionar. Não se chegando a nenhuma solução, disseram que a saída era tentar voltar ao modo tradicional das aulas, ou seja, as aulas presenciais.
Logo, um dos diretores retrucou:
_ Como assim? Nós não estamos preparados para dar aulas presenciais! Que loucura é essa? Vir todos os dias para o campus? Não sei nem mais abrir a porta da sala de aula!
Muitos concordaram com ele. Daí, alguém falou:
_ E se continuássemos com as aulas para quem tem computador saudável e darmos a aula presencial para os que não têm?
Logo foi rebatido por outro diretor:
_ Não é possível! Vamos ter dois trabalhos! Temos mais o que fazer!
_ Então, a gente vai para a sala de aula com todos! Falou uma diretora.
_ E a isonomia? Vamos prejudicar aqueles que têm computador saudável obrigando-os a virem para a aula? Não seria democrático! Retrucou outra diretora.
Ao final, sem outra solução, foi decidido pelas aulas presenciais mesmo. Cada estudante deveria comparecer ao campus e o professor também. A instituição providenciou tutoriais para ensinar os professores a usarem giz e pincel e como explorar, ao máximo, o quadro. Mas, isso não bastou, pois havia alguns professores com demandas mais básicas. Daí, foi feito um tutorial de psicomotricidade para que aprendessem a pegar corretamente no pincel ou giz.
E assim foram as primeiras semanas de muita confusão! Os estudantes se recusaram a terem aulas presenciais, alegando não compreenderem a linguagem dos professores. “O que é que esse cara está aí falando há duas horas?” Reclamavam os alunos...
Enfim, nesta história muito havia de similar a uma epidemia que houve, há uns 50 anos, de um tal de coronavírus.
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Olá!! Bom dia!! A crônica da escritora Ana Paula, está sensacional.
ResponderExcluirCrônica perfeita da escritora Ana Paula!! Parabéns!!
ResponderExcluirEsplêndida!!!!
ResponderExcluirAmo crônicas e poesias. É o que gosto de escrever.
ResponderExcluirParabéns, Ana Paula!