Diferentemente da UFC e da UVA, que, no começo de 2010, decidiram adotar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), conduzido pelo INEP/MEC, como a forma única de admissão nessas universidades, e para a qual disponibilizaram todas as suas vagas, extensivas a todo o país, abolindo o tradicional vestibular, por elas aplicados, a UECE resistiu ao assédio federal, mantendo o seu próprio vestibular.
O canto de sedução entoado por dirigentes do MEC, acompanhado de promissoras e tentadoras compensações, não foi suficiente para justificar a adesão ueceana ao ENEM, dobrando-se, assim, aos afagos brasilienses.
A decisão da UECE não foi condicionada a qualquer tipo de barganha ou intento de vender mais caro a sua aderência ao processo seletivo de abrangência nacional. Em que pese fulminar componentes da cultura regional e local, o ENEM ostenta algumas vantagens pedagógicas, do ponto de vista da avaliação, porquanto favorece mais a capacidade de raciocínio do candidato, minimizando os efeitos da memorização, e, com isso, privilegia a competência na interpretação e na solução de problemas reais, resultando em maior poder discriminatório dos testes.
A UECE, tal como a URCA, que também não aderiu ao ENEM, agiram, com absoluta prudência, ao rechaçar uma empreitada de elevado risco, cuja logística, de alta complexidade, pela extensão territorial do Brasil e suas particularidades, revela elos de extrema vulnerabilidade, bastando que um deles se rompa, para quebrar toda a corrente, em cadeia, como aconteceu, no ano pretérito, quando o sigilo da prova foi violado no centro de produção, causando um avultante prejuízo material, financeiro e, sobretudo, moral. Em suma: basta uma canoa, portando provas, virar em um igarapé da Amazônia, para toda a Armada naufragar.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva - Professor titular da UECE
* Publicado In: Jornal O Povo. Fortaleza, 01de julho de 2010. Caderno A (Opinião). p.8.
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