Inicio as minhas palavras, como não poderia deixar de ser,
agradecendo à escritora e amiga Giselda Medeiros pelo convite para estar aqui
com vocês e, especialmente agradeço, pela confiança de me delegar tarefa tão
importante como esta. Espero fazer jus ao crédito de Giselda.
Dou continuidade à minha fala, tomando
por empréstimo as palavras do dramaturgo e poeta russo Bertold Brecht, que, em
versos, cantou assim:
Nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração.
É
exatamente assim que vos falo agora, sentindo-me toda coração. Esta afirmação
vale também para definir o modo como eu li este número de Policromias. Diante da riqueza e diversidade dos textos contidos no
volume, optei por me dar o prazer de fazer uma leitura movida pela emoção, li,
portanto, com o coração, desnudei-me das armas da crítica técnica, deixei de
lado a racionalidade própria do julgamento acadêmico e lancei-me prazerosamente
no embalo dos textos, como leitora comum que se delicia com as surpresas ofertadas em cada página.
Ao pensar
no que escreveria sobre este volume de Policromias,
deparei-me com algumas dificuldades, entre elas, destaco as seguintes: como
escrever sobre coletânea tão diversificada? Como ordenar o meu discurso de modo
a não comprometer a clareza diante de tantos gêneros e temas? Como não ser
injusta nos destaques e citações? Confesso que, a princípio, a vontade primeira
foi comentar cada um, um por um, os textos da coletânea. Mas, jamais poderia
fazê-lo para um discurso de apresentação, com certeza, se assim o fizesse,
neste momento, eu os estaria submetendo a um texto muito longo e de leitura
enfadonha. Assim sendo, optei por agrupar os textos em dois blocos, pelos
gêneros: poesia e prosa. Facilitando assim a minha abordagem e citando
rapidamente os nomes em destaque em cada um dos gêneros.
Antes de comentá-los, porém, é
indispensável que aqui se faça uma referência às figuras de Mundinha
Negreiros e Aluísio Matias de Paula, homenageados na folha de rosto deste
volume. Ela professora e sócia efetiva da AJEB-CE. Autora de várias
obras, entre elas, os romances: Eudora, Trilhas da Saudade, Manoela e Amanhã Será Outro Dia,
este último, em parceria com a escritora Nilze Costa e Silva. Ele, Aluísio Matias de Paula, Membro
da Associação Cearense de Imprensa e da União Brasileira de Trovadores –
Fortaleza. Sócio Colaborador da AJEB. Sócio Benemérito da ALMECE. Autor dos
livros: Mensagens para a vida e Memórias
em Poesias, dentre outras publicações em coletâneas locais e
nacionais. Aos dois homenageados, deixo aqui o registro da minha referência.
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Também não
poderia deixar de destacar, antes de mergulhar no corpus desta coletânea, as palavras de Cecília Meireles que
epigrafam a obra:
Adormece
o teu corpo com a música da vida.
Encanta-te.
Esquece-te.
Tem por volúpia a dispersão.
Não queiras ser tu.
Queira ser a alma infinita de tudo.
Troca o teu curto sonho humano
Pelo sonho imortal.
Parece-me que este
fragmento, muito bem escolhido, além de adequar-se a várias circunstâncias de
vida, adequa-se também à tarefa do escritor. Tarefa à qual se dedicam todos os que
publicam nesta Policromias. Escrever,
como diz Cecília, tem a ver com entregar-se à música da vida, escrever é encantar-se,
é esquecer-se de si mesmo e deixar-se levar pela volúpia da dispersão, escrever
é deixar a pequenez de ser apenas humano e buscar a imortalidade pelas
palavras. Os versos de Cecília aqui destacados, caem bem a todos os
participantes deste volume. E com estes versos, por meio da voz dessa grande
poetisa brasileira, eu homenageio e saúdo nesta noite a todas as jornalistas
escritoras, parabenizando-as por fazerem parte desta associação, AJEB, nos seus
43 anos de existência. Sem esquecer a participação masculina neste volume, mas
lembrando que estou a referir-me a uma instituição composta predominantemente por
mulheres, cabe aqui também, para homenagear esta maioria, invocar as palavras
de Cora Coralina, quando ela nos diz: Eu
sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e
plantando flores.
Penso que é isso também que vocês fazem quando escrevem, vão escalando a
montanha da vida, removendo as pedras que aparecem em seus caminhos, como
aquela pedra no caminho de Drummond, pedras que aparecem em suas rotinas de profissionais,
de mães, de donas de casa, de escritoras; mas, ao mesmo tempo, vocês vão
plantando flores, enquanto escrevem e semeiam, com os vossos textos, a beleza,
a vida, o viço, o perfume que ameniza a dureza das pedras do dia-a-dia. Neste
sentido, posso afirmar que os seus textos, metaforicamente, são flores, porque
eles enfeitam, perfumam e anunciam as sementes para a boa vida. Digo isto simplesmente
por não acreditar em vida de qualidade, no sentido maior da palavra, sem a
presença da arte, da literatura em geral e da poesia, em especial, porque elas
nos conduzem à reflexão e ao engrandecimento humano.
Voltemos, pois, ao
essencial: os textos que compõem a Policromias.
Neste volume temos um total de cem textos, em autorias femininas e masculinas. Como
já anunciei antes, para abordá-los, agrupei-os por gênero, em dois grandes
blocos: poesia e prosa. Inicio, pois, pelos textos em versos. Começo
mencionando o lirismo romântico de Giselda
Medeiros, com seus poemas de amor e de amor à poesia. Em seguida,
deparamo-nos com as palavras de Maria
Nirvanda Medeiros que usa o verso para fazer homenagens fraternas a entes
queridos. Rejane Costa Barros oferta-nos
um poema no qual revela um canto amoroso em forma de chamado na voz de um eu
lírico feminino que se metaforiza em estrada a ser percorrida. Tereza Porto, em um lirismo ora calmo,
ora ofegante, oferece-nos poemas de
entrega e de vigília nos lençóis. Enquanto Maria
Helena do Amaral Macedo fala de silêncios e saudades na casa vazia e no
piano mudo. Maria Ilnah Soares e Silva,
em suas poesia e prosa poéticas, reflete sobre um amor, uma prece, um rio, uma
noite e sobre a paz. Em prosa e verso também, temos os textos de Ana Paula Medeiros, a cantar o amor
erótico no qual a carne espera e entra em erupção. E, embora não sendo poesia,
mas, já que citei a autora, merece aqui destacar também e recomendar a leitura
do conto “O casamento”. Margarida
Alencar nos fala de volta, de retorno, de reencontro com um lugar que é
aconchego e afago, num outro poema eleva um canto de saudação ao vento. Regine Limaverde, no texto aqui
publicado, optou pela reflexão filosófica, em versos que falam de grandes
silêncios e do maior de todos eles: a morte. Rosinha Medeiros, em três poemas, derrama declarações intensas ao
amado. A poesia de Mary Ann Leitão Karam
revela um eu lírico que assume sofrer por amor e por saudades. Nos versos de Nadya Gurgel, há uma reflexão
metalinguística que faz reverência à própria poesia. Em seguida aos versos de
Nadya, acompanhamos a visita noturna de uma coruja que se fez mote para o poema
de Nilze Costa e Silva. São de Rosa Firmo Bezerra Gomes os poemas que fazem exaltação alusiva ao Natal e ao sertão.
Em um gesto poético fraterno, Sabrina Melo
homenageia à mãe e filha. Seguindo a vertente da reflexão existencial, Viviane Fernandes nos fala de vida, do amor
e da morte. Enquanto Regina Barros Leal,
em suas introspecções, apresenta-nos uma mulher a desnudar-se diante de si
mesma. O lirismo amoroso de Rejane Costa
Barros, em O Jogo, aclama a
excentricidade de um time composto por apenas dois participantes, que, na
verdade, são amantes. Temos ainda Sabrina
Melo que, no poema A pipa, evoca
uma reminiscência de infância. Por fim, para encerrar esta seção de mulheres
poetas, lembro os versos de Clara Lêda
de Andrade Ferreira que se fazem protesto ecológico a favor do sofrido e
aviltado Rio Cocó.
Ainda nesta seara poética,
surgem as autorias masculinas: Eduardo
Fontes que filosofa sobre a vida e a morte por meio da personificação de
uma árvore. A relembrar os nossos cordelistas, embora não seja um cordel, temos
as quadras de Humberto Ferreira Oriá,
a nos falarem de lua, de vida, de fé e de virtudes. Nos versos de Manuel César revela-se um canto ao amor
fraterno e a denúncia contra o desmatamento. Vicente Alencar faz uso do verbo para louvar a natureza e a antiga
Fortaleza. Sérgio Macedo invoca
Epicuro e desenvolve a vertente da reflexão filosófica nos quatro poemas que
publicou.
Nesta produção poética masculina
ainda destacam-se como sonetistas, em temas variados: João de Deus Pereira da Silva, Vital Arruda de Figueiredo, J. Udine e
Moacir Gadelha. Aplausos aos
sonetistas, pois sabemos o que é exigido do poeta que se dedica a escrever um
bom soneto. E assim bem o diz Udine em sua Carpintaria
poética.
Deixemos agora os poetas e
poetisas e falemos dos prosadores. O texto inaugural da obra é uma crônica de Beatriz Alcântara, um texto de
memórias, a recordar o Grupo Seara,
Amizade e Literatura. Nele, a autora nos conta a história da criação da
Revista do Grupo Seara. No gênero ensaio, Ebe
Braga contribuiu para a publicação com o texto sobre Francis Bacon que vem
seguido de duas crônicas sobre a criação da mulher e o Natal, ambas da autoria
de Maria Luísa Bomfim. Zenaide Braga Marçal faz denúncia
ecológica e reflexão sobre a guerra a partir de visão poética da Esquadrilha da
Fumaça em Fortaleza. Ma. do Carmo
Carvalho Fontenelle nos oferta a crônica-conto do chinês, o notívago
cancioneiro que sensibilizou as minhas memórias de infância com cheiros de
candeeiros e canções antigas. Maria Evan
Gomes Bessa exalta a prática da fé e a alvissareira chegada das chuvas de
abril, presença que desejamos tanto nesta Fortaleza quente dos dias presentes.
Passeamos pela beleza da serra de Baturité em busca do casarão da família
Magalhães Bezerra no texto de Ma.
Argentina Austragésilo de Andrade. Ednilo
Soárez, por meio da intertextualidade, leva-nos também à reflexão
filosófica sobre a felicidade. Marcelo
Gurgel Carlos da Silva brinca jocosamente, numa crônica bem humorada, com o
episódio de instalação do estaleiro na praia do Titanzinho. Abordando um tema
bem atual Celina Côrte Pinheiro
versa sobre redes sociais numa analogia com as redes de pesca e trata também dos
temas: prostituição e violência urbana. Zinah
Alexandrino toma uma ocorrência cotidiana como mote da sua crônica: a
renovação da carteira de motorista. Por sua vez, Heloisa Barros Leal elege a noite por confidente, personificando-a
e fazendo com ela uma reflexão existencial. A liberdade metaforizada em forma
de borboleta revela reflexão sobre o cotidiano das mulheres na crônica de Rafaela de Medeiros Ribeiro. Em sua
crônica Cláudio Queiroz
declarando-se neófilo do sertão e saboreando o balanço de uma rede, reflete
sobre a vida em geral e sobre a vida sertaneja. José Pereira de Albuquerque, pesaroso, em um texto comovente, narra
o trágico acidente que vitimou um vizinho quase amigo, o Cavalheiro do Ar,
major Lindemberg. Rosa Virgínia Carneiro
de Castro, em seu ensaio biográfico, por meio da citação de grandes
filósofos, homenageia o escritor, geólogo e sanitarista Bernivaldo Carneiro. Sílvio dos Santos Filho versa, em tom
filosófico, distinguindo os valores das coisas e das pessoas. Ma. Ida Francisco de Carvalho transporta-nos
a uma noite de réveillon e põe em cena um jogo de xadrez que é metáfora da própria
vida. Por fim, lembremo-nos do discurso de José
Augusto Bezerra cujo texto foi escrito para comemorar o 118º. aniversário desta
Academia. Neste texto, José Augusto não só retoma a história da Academia, mas a
complementa com o registro dos acontecimentos do ano de 2012. E lamenta,
pesarosamente, duas perdas irreparáveis para esta Casa: Barros Pinho e José
Alves Fernandes. Aos dois deixo aqui também a minha homenagem.
Concluo dizendo que esta
breve síntese que fiz agora não expressa a totalidade nem a riqueza de todos os
textos publicados; entretanto, como já disse antes, seria inadequado estender o
meu comentário para além deste limite. Assim, mais uma vez, parabenizo a todos
e a todas que participaram deste sétimo volume de Policromias e, novamente, agradeço à oportunidade de poder
partilhar com vocês este momento.
Hermínia
Lima
23/4/2013
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