DOMINGO QUASÍMODO
16 de abril de 2023 - Domingo da Misericórdia (*)
Vianney Mesquita**
Hoje, 16 de abril de 2023, flui o Domingo da Misericórdia, coincidente com o derradeiro dia (o de número oito) da Oitava do
Tempo Pascal, que perdura por sete semanas, desde o Domingo de
Páscoa (ou da Ressurreição) ao
Dia
de Pentecoste, palavra significativa de
cinquenta,
pois perfará
a
cinquentena, de
hoje
a
50 dias, contando-se desde a descida
do Espírito
Paráclito
sobre
os Apóstolos.
Sob o ponto de vista histórico, é adequado, também, externar
o
fato de se haver definido outro ritual para a Missa, em 1969, ora
vigente, a instâncias do Concílio do Vaticano II, que pedira sua revisão, em ato
promulgado pelo Cardeal
Giovanni Battista Montini, restando
conhecido como Missa do Sumo
Pontífice
Paulo
VI.
Convém acrescentar, em
complemento,
a informação
de que, com
origem na edição
da Bula
Quo Primo Tempore – Desde os Primeiros
Momentos –
de Pio V (Antonio
Michele Ghislieri), consoante
às orientações
do
Concílio de
Trento, tinha curso
a Missa
no Rito
Romano
ou
Missa Tridentina, celebrada em latim, com o
sacerdote de
costas
para
os
fiéis,
tendo,
pois,
perdurado
de 1570 a 1962 , procedente do
Breve
de São Pio,
há pouco mencionado, isto é,
até
a segunda edição
da grande Assembleia
Vaticana
(o Concílio Ecumênico
do Vaticano I
se
deu de 8 de dezembro
de 1869 a 18 do mesmo
mês de
1870).
Em adição,
também,
cumpre exprimir
o fato de
que, ainda hoje,
em várias paróquias anglicanas da Grã -Bretanha – onde a Igreja ânglica foi separada
(não fundada,
como
se diz,
erroneamente) por Henrique VIII – o Sacrifício
da Missa
é oficiado em
código
linguístico
do Lácio,
de acordo
com os
lineamentos
do Concílio
de Trento (cidade do
Tirol italiano), realizado
de 1545 a 1563,
sem
obediência ao
rito missiológico
editado
por
Paulo
VI.
Ao vigorante Domingo da Oitava, também, se chama, nomeadamente noutros países e em línguas correspondentes, Domingo da
Pascoela, ou Pequena
Páscoa (do aramaico
pashã
= passagem), como prolongamento
da Ressurreição, até derivar no
dia de Pentecostes.
Interessante (e curiosa, também) é a antiga denominação de Domingo Quasímodo, expressão de emprego anterior ao Decreto Pontifical de 1969, radicada – coerentemente, é bom exprimir – no introito da Celebração Eucarística da Misericórdia, configurada na antífona do Salmo 117, ao evocar a Ressurreição de Jesus, conforme comentarei mais à frente.
Como se sabe, esse Apóstolo não acreditou, ab initio, na Ressurreição,
dEla só ficando convencido quando o Mestre apareceu outra vez
e lhe mostrou nas mãos os sinais abertos,
segurou -lhe as mãos e introduziu
os dedos de São Tomé na injúria
dos pregos. O Dídimo seguiu, arrependido
e contrito, a pregar o Evangelho aos Partos, povo de procedência indo-europeia, e na Índia. Ele
foi martirizado em Calamina (hoje
Mylapore), perto de Madras (atual
Chennai, capital do Estado
indiano de Tamil Nadu, quarta
cidade do País, com cerca
de seis milhões de habitantes).
No decurso da história, São Tomé Gêmeo é o protótipo dos que somente
creem em algo após terem
isto examinado de alguma maneira, como
ele pegou, a instâncias de Jesus,
as feridas do Cristo. Teve,
entretanto, vida de santo por
demais intensa e miraculosa, havendo sido, talvez,
o único dos doze discípulos de Jesus a assistir à Assunção de Maria Santíssima.
O dia de
São
Tomé,
ou São Tomás ( nome procedente dos arameus), é festejado
em 21 de dezembro, venerado
que
é o ( ainda) inexplicado
Gêmeo
nos
países
católicos
do Ocidente,
bem
assim no
Oriente,
máxime na
Índia
e na Síria, também
lugares onde
operou
prodígios.
Retorno ao introito do Salmo 117 – que concedeu nome ao Domingo Quasímodo – proferido na Missa da Oitava, principiado com a frase: QUASI MODO geniti infantis, racionabile, sine dolo lac concupiscites ut in eo crescatis in salutem. Em tradução livre, significa: Tal como (ou “ao modo de”) crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual puro, para que, por ele, possais crescer para a salvação. (I Pe – 2 ,2 ) .
(*) Penso
que, entre outros
pretextos de
natureza circunstancial, tenha representado
peso
na mudança o fato de
o adjetivo
QUASÍMODO
haver
restado mais conhecido
e popularizado na
acepção de
monstrengo, de
pessoa quasimodal,
consoante a personagem Quasímodo, do
celebrado romance do escritor Vitor Hugo, Nossa Senhora
de Paris,
editado em
1881 . Esse protagonista, feio
e corcunda, sineiro
da Catedral
de Nossa Senhora,
na Capital francesa, fora
abandonado,
consoante
o enredo do
Escritor, ainda
criança, em
um
domingo de
Páscoa, e
adotado pelo arquidiácono,
da
inventiva de
Vitor
Maria Hugo, na
Sé de
Paris, chamado Claudio Follo.
(**)
Vianney Mesquita é professor da Universidade Federal do Ceará. Pertence à
Academia Cearense da Língua
Portuguesa, à Academia
Cearense de Literatura e Jornalismo e Arcádia Nova Palmaciana. Escritor e jornalista.
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