sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
DIRCURSO DE POSSE NA PRESIDÊNCIA DA Academia Cearense de Letras - 2013/2014
Digníssimos membros da mesa diretora dos trabalhos desta solenidade, os quais saúdo na figura do atual Presidente desta casa, imortal e amigo Pedro Henrique Saraiva Leão, que meritoriamente encerra a sua missão.
Na antiguidade, os membros das comunidades se reuniam nos portos para desejar boa sorte à tripulação e aos passageiros das naus que iniciavam importantes viagens. Era um instante sagrado em que se pedia aos Deuses que orientassem, principalmente, os que iam comandar por entre mares e perigos desconhecidos.
Contrariamente, quando os navios voltavam, era o momento da alegria. Agradecia-se às divindades que permitiram, e aos homens que souberam, vencer desafios e voltar ao porto seguro da sua gente.
Cremos que hoje devemos, primeiramente, agradecer à administração anterior, capitaneada pelo ilustre Acadêmico Pedro Henrique, por haver trazido, após longa viagem de quatro anos, por entre dificuldades de toda ordem, a nau Academia Cearense de Letras, ao nosso porto de origem, sem nenhuma avaria e pronta para nova viagem e nova aventura. Em seu nome, portanto, Pedro, reverenciamos todas as Diretorias passadas, que comandaram tão bem cada viagem desta gloriosa embarcação, a mais antiga do gênero no Brasil, pelos últimos cento e dezoito anos. Dentre estes comandantes anteriores ressalte-se que está aqui presente o nosso querido e admirado confrade Murilo Martins, o qual cuidará do memorial da entidade, por ele concebido e implantado, ao lado desse genial estudioso da literatura cearense, Sânzio de Azevedo. Pedimos ainda ao Pedro que estenda nosso reconhecimento a sua esposa Mana, pelo empenho e entusiasmo com que o apoiou durante esta sua jornada.
Prezados acadêmicos deste Silogeu, os quais deram à chapa Barros Pinho, aquele meu irmão espiritual, por nós encabeçada, trinta e quatro dos trinta e cinco votos possíveis. Recebemos esta demonstração de confiança, praticamente unânime, com humildade e como se fora um recado de que poderemos contar com todos na tarefa de, na medida do possível, decidirmos em conjunto, com transparência, unidos e tendo como objetivo irrecusável a evolução da Academia e da inteligência da nossa terra.
Estimados parceiros, públicos e privados, que de certa forma, ao nos dar suporte e apoio, também adentram neste barco e para esta viagem. Nomeamos, primeiramente, os empreendedores privados, esses poetas que escrevem no grande livro da vida, representados pela Fundação Edson Queiroz, pela Fundação Beto Studart, pelo Grupo Ivens Dias Branco e pela FIEC. Simbolizando também o espírito e a visão dos homens públicos, nos honram como companheiros nesta jornada, a nossa Câmara Municipal, a Prefeitura de Fortaleza e a Secretaria de Cultura do Estado Ceará.
Saudamos os demais presentes, que aqui representam a sociedade. A sociedade é a razão de ser de uma Academia e vocês emolduram glamorosamente esta solenidade, com as expressões dos seus rostos e a dignidade das suas figuras.
Reverencio os familiares e amigos na imagem de uma menina que conheci aos quinze anos de idade, numa festa de São João. Na realidade éramos dois meninos. Casamo-nos aos dezoito, e hoje, cinquenta anos após, ainda continuamos unidos, pela vida e pelos sonhos: a minha esposa Bernadete.
Senhoras e senhores, observe-se que, fisicamente, o ser humano quase não mudou desde a idade da pedra. É o único animal que evoluiu por dentro, na mente, invisivelmente, e, não por acaso, os países que mais cresceram foram e ainda são, os que mais têm investido em educação e cultura.
As Academias, por mais de dois mil anos, tem sido centros propagadores desta evolução interior, coerentes com o pensamento de Sócrates que pregava existir apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.
Na origem da primeira academia houve também o surgimento do alfabeto e com ele o grande debate. Insignes filósofos acreditavam que só a palavra oral, viva e contundente, continuaria a desenvolver plenamente a memória. Temiam que as facilidades da escrita e da leitura enfraquecessem o raciocínio, o diálogo e a capacidade de questionamento.
Os temores não se justificaram. As linguagens oral e escrita delimitaram suas áreas de atuação e se somaram numa verdadeira revolução intelectual. As Academias acompanharam o namoro do homem com a sabedoria, preconizado por Platão, e esse relacionamento com o conhecimento, ampliado pela invenção da imprensa, impulsionou a humanidade ao estágio atual.
O homem contemporâneo, acreditando, como imaginava Nietzsche, que não há fatos eternos, nem verdades absolutas, penetra em um novo e misterioso universo, por ele criado, o mundo virtual.
A geração pós-papel já nasceu, conforme podemos observar em nossos filhos e netos, os quais ainda crianças têm mais afinidades com o computador e suas sutilezas do que nós adultos. Os textos de papiros, de pergaminho ou de papel, transformaram-se em telas reluzentes que interagem diretamente com a nossa consciência, sem contato tátil. Grandes jornais do mundo transformaram-se em virtuais. Muitas cadeias de livrarias fecharam. A Amazon, líder nas vendas do varejo on-line, já vende mais livros eletrônicos que livros físicos nos mercados americano e europeu, e as importantes bibliotecas estão reestudando seus investimentos, seu formato e o seu futuro.
Essa transição para a era digital talvez seja a maior das revoluções humanas e precisamos descobrir também o novo papel das Academias dentro desse contexto.
Emerge novamente, após 2.500 anos da criação do alfabeto, o debate sobre qual será o impacto dessas novas e profundas mudanças na leitura, na escrita e, por decorrência, nos cérebros humanos. Alguns argumentam que os jovens estão limitando rapidamente o seu vocabulário e que há uma assustadora tendência a se ler apenas e-mails e blogs, desprezando-se as leituras em profundidade. Outros acreditam que a comunicação virtual, tal qual foi a escrita, é uma maravilhosa conquista e poderá ser a ponte para o Olimpo do conhecimento humano.
Mas não importa o que acontecerá. Deveremos estar atentos e adaptarmo-nos, pois, parodiando Fernando Pessoa, poder-se-ia dizer: É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, ficaremos, para sempre, à margem de nós mesmos.
Para esta nossa travessia contamos com quarenta experientes membros na tripulação, denominados acadêmicos. O lema desta Academia é Forti Nihil Difficile, ou seja, para o forte nada é difícil.
É uma grande honra poder trabalhar com o grupo de confrades deste Sodalício, o qual representa a inteligência literária da nossa terra. A jornada não será fácil, mas pela votação que nos foi dada, estamos unidos. Unidos somos fortes e para o forte nada é difícil.
Registre-se nosso reconhecimento e gratidão ao dedicado trabalho do grupo de apoio logístico e administrativo, formado por nossos funcionários: Madalena Figueiredo, Bibliotecária; Cláudia Queiroz, Secretária; Nunes Veríssimo, Valter Soares e José Arteiro, nos serviços gerais, internos e externos, sob a liderança da Diretora-Administrativa desta Academia, há vinte anos, Regina Pamplona Fiuza.
Preliminarmente, declaramos que trataremos com carinho os seguintes temas: Organização das finanças da instituição; esforço para recuperação da Praça dos Leões, incluindo o coreto; Melhoramento da segurança no entorno da entidade. Restauração do Prédio e da biblioteca da ACL; Interiorização da nossa atividade, com visita da ACL a cidades do interior; Reforma do Estatuto; Exposições temáticas; Continuidade dos Ciclos de Conferências; Cursos específicos para estudiosos, em convênio com o estado e a Prefeitura; Empenho para edição de livros de autoria dos sócios e reedição de livros raros.
Trabalharemos com paciência, ouviremos a todos e tomaremos decisões baseadas nos interesses maiores da entidade. Nestes noventa dias iniciais, ainda estarei também como Presidente do Instituto do Ceará, concluindo a missão que me foi confiada por aquela veneranda e querida instituição.
Feitas tais considerações, concluo dizendo que temos consciência da nobre missão de ser Presidente da mais antiga Academia de letras do Brasil, bem como das dificuldades e desafios que isto representa.
Entendemos que cada administração é apenas o elo de uma grande corrente que se estende, infinitamente, no tempo e no espaço.
Machado de Assis no lançamento da primeira pedra da estátua de José de Alencar, inaugurada em 1º de maio de 1897, no RJ, lembrou que Alencar terminara o livro Iracema, dizendo que a jandaia ainda cantava no olho do coqueiro, mas já não repetia o mavioso nome de Iracema, pois, tudo passava sobre a terra. Machado de Assis, entrementes, concluiu dizendo que a posteridade é aquela jandaia que não deixa o coqueiro e que, ao contrário da que emudeceu, repete e repetirá sempre o nome da linda tabajara e do seu imortal autor, pois, nem tudo passa sobre a terra.
Os séculos tem-nos mostrado que assim são as Academias. Os confrades e as administrações passam, mas não as entidades. São elas aquelas jandaias que jamais deixam de cantar, porque estão comprometidas com a posteridade.
Assim, senhoras e senhoras, levantemos as âncoras e deixemos o barco fluir lentamente, iniciando esta viagem. Peçamos aos céus, como os antigos Gregos já o faziam à época da primeira Academia, que os ventos nos sejam favoráveis e que saibamos honrar os que nos antecederam durante os cento e dezoito anos anteriores.
Muito Grato,
José Augusto Bezerra – Jan. 2013
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