sábado, 26 de outubro de 2013
REUNIÃO DA AJEB DE 17 DE SETEMBRO DE 2013
BREVE HISTÓRICO SOBRE A TROVA:
DEFINIÇÕES. ORIGEM. CONSIDERAÇÕES GERAIS.
Inicialmente, quero agradecer o honroso
convite formulado pela nossa ilustre Presidente da AJEB, Nirvanda Medeiros,
para dar esta palestra sobre a TROVA, composição poética clássica de forma
fixa. Mesmo não me achando capacitado para tal proeza, aceitei o encargo, e aqui estou para, dentro de
minhas limitações intelectuais, dizer algo sobre esse importante poema conhecido popularmente como Trova.
1.
DEFINIÇÕES SOBRE A TROVA.
Vamos
começar definindo, conceituando o que seja a Trova. “A Trova é poema de quatro
versos setessilábicos (ou heptassílabos) com rima e sentido completo”. A trova,
hodiernamente, é reverenciada como uma Obra de Arte, como Literatura, portanto.
Como
composição poética, modernamente, (do gênero poesia), ela deve obedecer às
seguintes características:
a) Ser uma quadra. Possuir quatro
versos (ou quatro linhas, tanto faz);
b) Cada verso deve ter sete sílabas poéticas,
(setessilábicos), e as sílabas são contadas pelo som.
c) Deve ter sentido completo e
independente. O trovador, ao compô-la,
deve pôr, nela, sua integral ideia,
com lucidez, propriedade e grande poder de síntese.
d) Ter rima. Os versos da trova podem obedecer
aos seguintes esquemas rimáticos: a) ABAB (quando a rima se dá entre o 1º e o 3º verso; e, o 2º, com o 4º verso.
Obs: Este esquema é o mais cultuado e elaborado. É, inclusive, o único adotado pela
UBT. Há, ainda, trovas nos esquemas
ABCB, ABBA e AABB.
É bom observar que uma
estrofe, que venha a conter quatro versos chama-se quadra (ou quarteto) . A trova, portanto, é uma quadra. Assim, toda
trova é uma quadra, mas nem toda quadra é uma trova. Isso se justifica porque
uma quadra para ser trova deve atender a
todos os requisitos formais que assim a caracterizam. Existem quadras que não se fundamentam como
trovas, pois elaboradas sem métrica, com versos brancos e sem rima e sem
sentido completo, não passando, portanto,
de simples quadras. Diz-se, também, que “todo trovador é poeta, mas nem
todo poeta é trovador, pois nem todo poeta sabe metrificar, fazer o verso
medido”.
2 - CATEGORIAS DE TROVA.
As trovas podem ser: LÍRICAS (falam de amor, de saudade); FILOSÓFICAS
(encerram um ensinamento), e HUMORÍSTICAS
DESCRITIVAS (descrevem algo). Exemplos:
LÍRICA (de José Valdez de C.
Moura)
Pelos mares da saudade
O meu ser, vagando ao léu,
Só deseja a liberdade,
Das andorinhas do céu.
FILOSÓFICA (de Altair Fernandes
Carvalho)
Cultivar ressentimento!
Atividade infeliz...
É querer que o sofrimento
dure mais que cicatriz!
HUMORÍSTICA ( João Paulo Ouverney)
Na vida, irônico jogo
que um bravo bombeiro arrasa
é não não apagar o “fogo”
da mulher que tem em casa.
DESCRITIVA (José Ouverney)
Tendo o céu como moldura
e a noite como cortina,
a Mantiqueira é pintura
que Deus, com orgulho, assina!
3 . ORIGEM DA TROVA.
O termo trova, acredita-se que provém do francês – trouver – ou do
espanhol – troubare – pois, ambas as palavras têm o mesmo significado: achar. Daí dizer-se, em euforia, que toda boa trova
é, sim, um achado e tanto!
A trova está ligada à poesia da Idade Média. Era, nesse período, sinônimo de poema e letra de música. “A cultura trovadoresca refletia bem o
quadro panorâmico histórico da
época: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual
do clero”. Na arquitetura, predominava
o estilo gótico. No tocante à Literatura, essa arte se desenvolveu no sul da França e em Portugal, com o
movimento poético chamado Trovadorismo.
Os poemas produzidos eram cantados
por poetas, os jograis e menestréis, poemas esses que foram, desde logo,
sistematicamente publicados.
A
bem da verdade, há de ressaltar que a trova dos nossos dias possui a
sua conceituação própria, e, dessa forma, diferencia-se da quadra e da poesia de cordel, da trova
gauchesca, do Repente, bem como do poema musicado da Idade Média.
A
Trova medieval, se comparada diretamente à trova que hoje largamente se
pratica, é por demais, como
afirmam os historiadores, imprecisa, mas
essas composições antigas são reconhecidas, hoje, como formas das primeiras manifestações
trovadorescas. Podemos dizer que as trovas medievais eram composições rudes, e
que nos alegra saber, também, que a
nossa língua portuguesa nasceu cantarolando trovas, através dos valiosos
jograis e menestréis, que iam de cidade em cidade, divulgando-as. A trova é, portanto, um poema milenar. Nas Cortes
portuguesas eram bastante apreciadas por sua popularidade e brilho. Era a
poesia dos reis, a exemplo do notável Dom Dinis, conhecido como o Rei Trovador.
4. SUA
DIFUSÃO NO BRASIL.
As
trovas aportaram aqui, no Brasil, através das caravelas de Cabral. Neste nosso
solo pátrio, encontraram um terreno propício e altamente fértil para germinar,
crescer e se agigantar, no seio do povo, em esplendente beleza e popularidade.
No
nosso País, o primeiro movimento literário em torno da trova se consolidou no
Nordeste Brasileiro, precisamente em Recife-PE. O poeta destaque desse movimento foi Jader de Andrade, e
também os poetas do livro “Descantes”, publicado em 1907. A palavra “Descantes”
significa cantiga popular. O livro “Descantes” reunia trabalhos de jovens
estudantes da Faculdade de Direito de Recife, e eram todos líricos boêmios de
serenatas.
Para
o nosso gáudio e orgulho, a TROVA é, hoje, o único gênero exclusivo da língua
portuguesa. Este notável e popular poema, a partir de 1950, ganhou realce através de um movimento cultural chamado
TROVISMO, palavra essa criada pelo poeta e político J.G. de Araújo Jorge (já
falecido) . Coube ao escritor Eno Teodoro Wanke
publicar, em 1978 , o livro “O Trovismo”, que conta a história desse
movimento a partir de 1950 em diante. No ano de 1980, surge um novo movimento
em torno da renovação da trova, chamado de NEOTROVISMO, criado por Clério José
Borges do Clube dos Trovadores Capixabas-CTC.
Esse movimento chegou a realizar 20 seminários nacionais da trova no
Estado do Espírito Santo, e o seu presidente, Clério, realizou
palestras praticamente em todas
as cidades brasileiras, sempre no
intuito de promover e difundir a trova, que já gozava de grande popularidade.
5. CRIAÇÃO DA UBT – UNIÃO BRASILEIRA DOS
TROVADORES.
Em 1959, o dentista carioca Gilson de Castro, que adotou o pseudônimo de
Luiz Otávio, juntamente com J.G. de Araújo Jorge, e com o favorecimento do
jornal carioca “O GLOBO”, promoveram os primeiros jogos florais de Nova
Friburgo, que se constituírm num marco inicial para o fortalecimento literário
deste movimento, que ganhou amplitude e esmerada organização como nunca se vira
na história da literatura deste país.
Os
jogos florais gozavam de muita popularidade na Idade Média. Era um torneio
cultural que se realizava anualmente. Esses jogos se baseavam em tradições oriundas da Roma Antiga, e, na França, em
Tolouse, era onde aconteciam tais jogos.
O
nome “Jogos Florais” fora dado a esse torneio, por ser realizado em plena primavera, envolvendo diversas modalidades
literárias, e, sobretudo, por oferecer,
aos vencedores do certame, prêmios (troféus) em forma de flores.
Após os Jogos Florais realizados em 1959, inúmeras outras cidades
passaram, também, a promover essa brilhante e popular competição, que visa,
acima de tudo, congregar e
confraternizar os trovadores, nesse
evento alegre e festivo de ares
trovadorescos.
Quanto a Luiz
Otávio, podemos dizer que ele foi o grande entusiasta da trova, em nosso
meio, um Mecenas até. Em 1960, após
participar de um Congresso do GBT – Grêmio Brasileiro de Trovadores, Luiz
Otávio cuidou de implantar uma série de seções dessa entidade no Sul do Brasil.
O seu trabalho incansável, em prol da trova, foi reconhecido pela
Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo que, através de decreto-lei,
oficializou e institucionalizou o dia 18
de julho, dia do nascimento do referido poeta, como o DIA DO TROVADOR. Luiz Otávio nascera no Rio de Janeiro, no dia
18 de julho de 1916, e falecera em 31 de janeiro de 1977, na cidade Santos. Ele
foi o fundador e primeiro presidente da UBT – União Brasileira de Trovadores,
hoje espalhada por todo o território nacional, com aproximadamente duzentas
representações – seções e delegacias – além de dezesseis representações no
exterior.
Em 1960, em congresso de trovadores realizado em São Paulo, foi eleita a
família real da trova, sendo que, Luiz Otávio, recebeu o honroso título de o “Príncipe dos Trovadores”. Luiz
Otávio publicou diversos livros de trova
e poesia e compôs os hinos, como o “Hino dos Trovadores” e o Hino dos
Jogos Florais”, utilizados até o presente.
A UBT fora criada no dia 21 agosto de 1967.
6. FUNDAÇÃO DA UBT – NO CEARÁ.
UBT – Secção de
Fortaleza-CE foi fundada em 11 de
novembro de 1969, e, dentro de pouco menos de dois meses, completará 45 anos de
laboriosa e triunfante existência. O primeiro presidente foi Santiago Vasques
Filho e mais vinte e dois poetas, que, em reunião histórica, na Casa Juvenal Galeno, criaram,
oficialmente, a UNIÃO BRASLEIRA DE TROVADORES – Secção de Fortaleza-CE.
Um nome que merece destaque é o de Fernando Câncio Araújo, o qual se fez
um grande e atuante presidente da entidade por longos
vinte anos, dedicando-se com paixão e denodo à trova, usando toda a sua
sabedoria e carisma para cada vez mais elevá-la e promovê-la, em nosso meio.
Outro não menos destacável Presidente é o Cel. Gutemberg Liberato de
Andrade, que ocupou a entidade por quatro mandatos, com extraordinária
capacidade de trabalho, dado o seu dinamismo, eficiência e criatividade no
comando da UBT. Gutemberg é, hoje,
Presidente de honra da UBT/CE. Fundou delegacias e secções e é o
atual presidente do Conselho Estadual da
UBT, tendo direito a voto na UBT
Nacional. Durante as suas gestões, chegou a escrever o livro DOCUMENTOS, que se
constitui numa fonte fidedigna de pesquisa e, como o título indica, de cunho
documental. Foi, também, o criador do Estandarte da UBT. Graças à sua brilhante
e profícua atuação, a UBT, hoje, goza, grande conceito, e figura, no Nordeste,
como a única que está devidamente
regular, por cumprir todas as exigências determinadas pela UBT Nacional. Deixo, a este nosso amigo,
Gutemberg, aqui presente, em nome dos
trovadores, o nosso grande reconhecimento
e gratidão pelo seu trabalho belíssimo que prestou e ainda presta
à querida UBT.
O ilustre Jornalista e trovador – VICENTE ALENCAR – é o nosso atual
Presidente. Com bastante empenho e dedicação, ele vem conduzindo, satisfatoriamente, os destinos de nossa querida entidade, que
tem como Patrono o divino poeta e trovador – SÃO FRANCISCO DE ASSIS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Ao
encerrar esta palestra, não poderia deixar de citar a célebre
frase do grande escritor Jorge Amado , sobre a Trova: “ Não pode haver criação literária mais
popular, que fale mais diretamente ao coração do povo do que a trova. É através
dela que o povo toma contato com a poesia e sente sua força. Por isso mesmo, a
trova e o trovador são imortais”.
Desejo ressaltar que, foi muito bom e prazeroso pesquisar sobre a Trova,
conhecer um pouco mais do seu histórico, de sua origem, e do seu alto poder de
magia que ela exerce sobre cada um de nós. Este pequenino, mas grandioso poema
merece, sem dúvida, real destaque no cenário da literatura brasileira. A trova
e o soneto, para mim, representam os mais belos tipos de poema. Por eles tenho
a maior predileção. Aprecio, dos
célebres autores, essas primorosas
composições. Passarei a ler, agora, algumas trovas famosas, da autoria de
notáveis poetas, que já partiram para o além, mas, em razão de a trova e o
trovador serem imortais, eles aqui são relembrados e como que ressuscitados por
força da beleza de suas divinas produções literárias. Da mesma forma, lerei
trovas de alguns grandes trovadores atuais, dos meus diletos amigos, companheiros
da nossa gloriosa UBT Fortaleza, para prestigiá-los, já que essa palestra gira
em torno da trova e do trovador.
Encerro esta minha palestra invocando as bênçãos do nosso Patrono SÃO
FRANCISCO DE ASSIS sobre todos nós e, em especial, para todos os trovadores do
Brasil e do mundo inteiro.
Muito Obrigado
João Udine Vasconcelos.
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