O auditório da Associação de Aposentados Fazendários Estaduais do Ceará - AAFEC - foi palco para o lançamento do livro "De Mim e de Outros", de autoria de Pereira de Albuquerque.
Em manhã concorridíssima, a cerimonialista Arleni Portelada abriu a sessão literária, falando sobre o acontecimento e sobre o Autor, para, em seguida, dar a palavra à escritora Giselda Medeiros, que fez a apresentação da obra.
Assim se expressou a apresentadora:
DE MIM E DE
OUTROS – UM LIVRO OUSADO
Giselda Medeiros
Iniciemos
a apresentação deste livro com as palavras do próprio Autor:
“Em
boa parte das páginas que se seguem, há sérios motivos para controvérsia. Com
efeito, o livro de ensaios (não seriam crônicas ou artigos?) que entrego agora
ao público cearense, é mesmo polêmico em várias passagens. Aliás, para um e
outro leitor mais apressado, parecerá pretensioso, embora os termos em que foi
escrito não autorizem esse juízo. ‘De mim e de Outros’, portanto, nada tem de
bombástico. É, quando muito, um livro corajoso”.
Evidentemente,
corajoso não é o livro, para desfazer a metonímia, corajoso é o próprio Autor
que exercita o arrazoado pensamento de Nelson Werneck Sodré (1911 – 1999,
militar e historiador brasileiro), ao judiciar: “Aquele que não tem condições
para enfrentar a verdade e proclamá-la, sejam quais forem as consequências, não
tem condições para ser escritor”.
Constatamos
essa verdade ao longo da leitura dos ensaios de Pereira de Albuquerque e, mais,
intuímos que o Autor dispensa atenção especial aos valores nacionais, sem
desprezar a boa literatura estrangeira, sua importância, desde que o escritor esteja
comprometido com a realidade com a qual está lidando. Mostrar o máximo possível
de responsabilidade e seriedade ao desenvolver seu trabalho é indispensável, uma
vez que ele vai assumir o importante papel de um formador de opiniões.
Notamos,
outrossim, nos ensaios de Pereira de Albuquerque, a contundente capacidade que
lhe é inerente de trabalhar as palavras, sob um estilo sóbrio, elegante,
eclético, em que suas impressões da realidade avultam-se claras, evitando a
forma deturpada ou enviesada, sem esconder fatos, tampouco, submeter-se a
exigências de outros, carentes de loas, para ostentarem sua falsa grandeza.
Não! Pereira de Albuquerque possui caráter
e senso de responsabilidade. E é essa a
verdadeira natureza do escritor, já que é ele um agente ativo, formador de
consciências.
Ler,
portanto, ensina-nos o Autor de “O Ridículo das Coisas”, não é apenas um passatempo,
mas a oportunidade de se adquirir conhecimentos, de se tornar, também, um
crítico da realidade que nos circunda e da sociedade na qual estamos inseridos.
Por isso, sua sensibilidade artística sempre atenta ao fato de que ele,
escritor, é parte indissociável de um contexto sociopolítico e cultural, do
qual deve participar ativamente, sentindo-lhe as mudanças, para ensejar ao
leitor reflexões sobre o seu papel junto à coletividade. E sabe o bom leitor
que por trás da arte de escrever há um discurso, uma visão de mundo a ser
apreendidos.
Pereira
de Albuquerque, como escritor polígrafo que é, deixa o leitor na comodidade
necessária, uma vez que, em sua poesia, seus contos, suas crônicas, trovas,
seus romances e ensaios, mediante estilo agradável, linguagem clara e bem
trabalhada, dá-nos prova de sua invejável cultura. Há em seu texto um
desenrolar contínuo de assuntos e ideias, expondo variados temas: a literatura,
as questões religiosas, metafísicas e filosóficas, os mandos e desmandos da
política, a crítica literária, a desigualdade social, os malefícios do
preconceito, dentre outros, acrescentando, ainda, as investidas em sua própria
condição de ser humano, desnudando-se diante de seu leitor.
Constate
o leitor, diante do que expusemos até aqui e do que comentamos sobre seu livro
“O Ridículo das Coisas” (Fortaleza: RBS Editora, 2005), que Pereira de
Albuquerque já deixava extravasar, à época, inegável talento para a arte de
escrever. Vejamos: “Ressalte-se nele o engenhoso trabalho das ideias, nas quais
põe o seu abalizado conceito, resultado da riqueza das leituras que fez (e que
faz) de grandes autores da nossa literatura e da universal. São conceitos, em
sua maioria, levantadores de polêmicas, aos quais ele sabe imprimir o seu ponto
de vista, sem querer, contudo, impingir-nos a aceitá-los. Antes, conduz-nos,
discretamente, a uma reflexão para, daí, tirarmos as nossas próprias conclusões”.
Comprova-se
essa verdade, ao recebermos hoje o seu décimo primeiro livro, tendo outros, ainda,
à espera do nascimento. E note-se o crescente desempenho artístico do Autor de “O
Lado Obscuro do Amor”, a cada livro publicado.
E,
para finalizar, evocamos o advogado, jornalista, político, diplomata e poeta
carioca, Francisco Otaviano. Em seu poema “Ilusões de Vida”, está bem definida
a trajetória percorrida por nosso querido escritor Pereira de Albuquerque:
“Quem passou pela vida em brancas nuvens
E
em plácido repouso adormeceu;
Quem
não sentiu o frio da desgraça,
Quem
passou pela vida e não sofreu,
Foi
espectro de homem - não foi homem,
Só
passou pela vida - não viveu.”
Recomendamos,
pois, a leitura do livro “De Mim e de Outros”. Você vai fazer uma extraordinária
viagem cultural.
Obrigada
Ao final, Pereira de Albuquerque fez seus agradecimentos, de forma inusitada. Recorreu aos versos e às rimas, deixando que a Poesia conduzisse suas palavras.
Como é bom relancear o olhar e ver
lotar este auditório o povo amigo
que se dispôs a partilhar comigo
esses doces momentos de lazer!
Antes de qualquer coisa, é meu dever
agradecer assim, com metro e rima,
pois vão comprar meu livro e, ainda por cima,,
é quase certo que o pretendem ler.
O livro, esse objeto encantador,
nem só de tinta e de papel é feito,
e só merece a láurea de perfeito
quando instrui ou diverte o bom leitor.
Oxalá possa o meu livrinho amado
merecer de vocês desvelo e estima...
ele não é, decerto, uma obra-prima,
mas foi escrito com o maior cuidado.
Por isso o leiam sem afobação,
de esp'rito aberto e vagarosamente;
não há maneira mais eficiente
de saber quando um livro presta ou não!
Leiam, pois, por bondade, o livro meu;
de outro modo, é preciso ter em mente
que, para o homem de bem, não é decente
falar mal de uma obra que nem leu.
Leiam-no, que isso me trará conforto,
a mim, o autor feliz, pois é sabido
que um livro só tem vida se for lido;
e eu não quero que o meu já nasça morto.
Digam, depois, o que vos aprouver:
que é fraco, é feio, é pobre e sem proveito,
mas ninguém venha me apontar defeito
sem ter lido uma página sequer!
"De mim e de outros" tem... Ora é tolice
tomar mais tempo de vocês - é espinho!
Falar... dizer o quê do meu livrinho,
depois de tudo que Giselda disse?!
E ela sabe o que diz. Em Fortaleza
não conheço escritor melhor do que ela...
Quem quiser reclamar, reclame dela,
se é capaz de arrostar uma "Princesa"!
"de mim e de outros" me custou suor;
mas, se ainda assim, não agradar ninguém,
já me sinto perdoado; e, ano que vem,
tratarei de escrever coisa melhor!
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