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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CEARÁ-MIRIM - Berço de Lúcia Helena Pereira (ex-Presidente Nacional e Regional da AJEB)

A MATRIZ DE CEARÁ-MIRIM


A MENINA LÚCIA HELENA E OS PAIS - ÁUREA E ABEL - PARADIGMAS DAS FILHAS!

Sempre que volto à minha Ceará-Mirim, sinto-me renovada, animada, revigorada, como se aquela paisagem verde pudesse me restituir à fonte luminosa da minha infância de felicidade.
Entrei no vale com as mãos cheias de flores. Eram poemas de saudades lembrando, revendo coisas que o tempo não consegue apagar e ensinam, que nos vislumbres do passado, anjos nos cercam e apontam os caminhos que devemos seguir.
Não visitei o vale de manhã cedo, mas, após às 14 horas, onde permaneci por apenas uma hora e quarenta minutos, tempo suficiente para reencontrar o meu mundo imerso na distância, na saudade da saudade, fazendo-me chorar.
Fiz a minha peregrinação de felicidade ao percorrer a cidadezinha que me viu nascer. A nossa casa já não está naquela linda rua da Estação Rodoviária, em seu lugar, o grande e suntuoso estádio esportivo.
Joguei um casto beijo àquele lugar santo e minhas lágrimas traziam o cheiro dos jasmins e dos ricos pés de bogarís do jardim da nossa casa.
Revi, com os olhos do que o tempo apurou no meu espírito, a casa- grande, com seus pesados janelões, e o lindo telhado, com aquelas as duas bocas de jacaré (as bicas), por onde a chuva escoava como fontes borbulhando puras águas.
Estava acompanhada de uma prima muito querida. Enquanto ela saltou do carro e foi tratar com alguém, eu desci e me dirigi àquele espaço sagrado, onde havia sido construída a casa-grande dos meus pais. Meu olhar se iluminou, foi como se eu pudesse ver, através de um cosmorama "mágico", a minha casa de infância, com suas duas salas de frente, o piano de cauda, os dois lustres de cristal, a ceia larga de prata, os móveis, trabalhados... Sugeriu-me aos ouvidos, os passos do meu pai chegando da fazenda e beijando as cinco filhas: Marilene, Gipse (minha irmã que está no céu), Suely e Iara Maria. E sempre que me beijava a fronte, expandia o seu afeto: "minha Lucas"!
Revi, como que por encanto, minha mãe sentada em sua cadeira de balanço, com as mãos ágeis bordando filigranas de amor, ou costurando na velha Singer, ou mesmo na cozinha preparando a saborosa massa para as raivinhas e sequilhos (feitos de goma de mandioca), e outras coisas gostosas (nas quais, jamais encontrei o menor talento). Cheguei a sentir o cheiro dessas guloseimas exalando do grande fogão de alvenaria, com aquele forno em arco, adaptado para aquele tipo de fogão.
Imaginei, por minutos, a figura de minha babá - Regina Dias - fumando cachimbo, às escondidas, e, ao menor ruído, correndo para escondê-lo num buraco do muro do quintal.
Senti, com invejável alegria, o sabor dos finos doces mexidos pela neguinha Cícera, com aqueles seus olhos acatitados e as bolinhas de suor no nariz achatado. Ao mesmo tempo, ecoando como canções de amor, as vozes de Quincas e Lebre, empregados da casa, resmungando ou com suas conversas simplórias, tão inocentes, alargando sorrisos diante da passagem imponente de "Buá" - o trem!
A presença dos meus pais em minha vida foi sempre marcada pelas lições imperecíveis, pelo legado inexpugnável que me deram: a fonte eterna do amor, do recato ao lar, do respeito à condição humana.
Encerro essas linhas que a saudade me fez escrever, desejando ouvir o dobre dos sinos da Matriz de N.Sra. da Conceição, ou a Banda de Música tocando os seus incomparáveis dobrados. Encerro está página de recordações amorosas, como a ouvir o silêncio religioso do meu vale, o meu esconderijo perfeito, onde guardo a eterna paisagem de minha infância iluminada, onde uma criança aparece, com a alma leve e pura,a alma de criança prestes a entrar no templo sagrado da evocação e da poesia, quando sente a proximidade de Deus!

Lúcia Helena Pereira

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