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domingo, 25 de novembro de 2012

A TRAVESSIA DO HOMEM E DO POETA FERREIRA GULLAR



                            PALESTRA DE EVAN BESSA NA AJEB-CE
 “Não haverá borboletas se a vida  não passar por  longas    e silenciosas metamorfoses” diz Rubem Alves.
Essa assertiva cabe perfeitamente na vida e obra do nosso protagonista. Homem de enorme talento, ousado e com posições bem definidas sobre a vida. Conhecido por sua coragem, pois sempre defendeu princípios morais e éticos que o colocaram no rol dos homens íntegros deste país. Maranhense de berço descobriu as artes plásticas, antes da poesia, no Colégio São Luis Gonzaga, aos 12 anos. Desde então faz colagem, pinta quadros, copia os pintores famosos e pendura na sala de sua casa. Quando os amigos identificam o pintor do quadro copiado, Ferreira Gullar diz que só falsifica para consumo próprio. É uma figura!

Ele mesmo criou seu pseudônimo: Ferreira Gullar, utilizando o sobrenome do pai (Ferreira) e da mãe (Goulart) para compor a “persona” de José Ribamar Ferreira. Desde cedo se envolveu com a leitura e escrita. Colaborou no jornal de sua São Luis e, mais tarde, no Rio de Janeiro, trabalhou como locutor de rádio. Escreveu seu primeiro livro com 19 anos. Dedicou-se inteiramente ao ofício, seja como poeta, dramaturgo, jornalista, artista plástico, ou tradutor. Assim, Ferreira Gullar, mostra-se multifacetado, singular e plural na arte da criação.

Em sua terra natal participou do movimento pós-modernista com outros escritores, através de uma revista que foi lançada.  Contribuíram também na edição Lucy Teixeira, Sarney, dentre outros.

Poeta, cronista, crítico de arte, pintor, tradutor, ensaísta, memorialista e um dos fundadores do movimento neoconcretista brasileiro. Escreveu poemas em placas de madeira, gravando-as de forma a mostrar inovação. Junto com Lígia e Hélio Oiticica, desenvolveu tal movimento, valorizando a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. Depois deixa o grupo para se engajar com os Centros Populares de Cultura.

Seu primeiro livro escreveu em 1949, “Um pouco acima do chão”, que acabou retirando de sua
bibliografia por achar que era imaturo na época em que lançou. O seu poema intitulado “O Galo”, editado pelo Jornal de Letras em 1950, ganhou vários prêmios. Foi amigo do crítico de arte Mário Pedrosa, do escritor Oswald de Andrade e trabalhou como revisor na revista “O Cruzeiro”.  Como jornalista, colaborou na revista “Manchete”, no ”Diário Carioca” e depois no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Hoje, escreve crônicas no jornal “Folha de São Paulo”.

Com o dinamismo que lhe é peculiar participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta no MASP. Lançou seu livro de poemas e, em seguida, assumiu a direção da Fundação Cultural de Brasília, no governo de Jânio Quadros. Criou o Museu de Arte Popular.

Nos anos 60 passou a fazer parte do Centro Popular de Cultura da UNE e trabalhou na sucursal carioca de “O Estado de São Paulo”. Nesse mesmo período lança “João Boa Morte, Cabra Marcado para Morrer” e “Quem matou Aparecida” (cordéis).

Em 1963 filiou-se ao Partido Comunista e no ano seguinte criou o grupo “Opinião” com Oduvaldo Viana Filho, Paulo Ponte e outros. Mas em pouco tempo foi preso pela Ditadura Militar em companhia de Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 68 publicou o ensaio “Vanguarda e Subdesenvolvimento”. No exílio dedicou-se a pintura quando esteve em Moscou, Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires. Colaborou no “O Pasquim” sob o pseudônimo de Frederico Marques.

Foi na solidão que escreveu o livro mais importante de sua carreira de escritor: “Poema Sujo” em Buenos Aires, o qual impressionou tanto o poeta Vinicius de Morais, que este acabou trazendo para publicar no Brasil pela Civilização Brasileira.

Sua obra é vastíssima com uma produção de enorme qualidade estética e literária. Tanto no que concerne às artes plásticas, bem como na literatura propriamente dita. Publicou ensaios sobre a Cultura Brasileira. É considerado um dos maiores poetas nacionais. Sua obra apresenta diferentes fases de pesquisa estética, desde o experimentalismo e o lirismo, até a poesia de cordel e a dicção coloquial. Não nega ser nordestino, evocando a visão urbana e o compromisso social. Tem enorme interesse pela cultura popular, pela história nacional e pela participação política que se observa nas suas peças teatrais escritas ao longo de sua vida.

A gênese da obra do poeta está nas surpresas que a vida reserva. “A minha poesia costumo dizer nasce do espanto. Precisa de alguma coisa que me surpreenda que eu tenha descoberto ainda na vida”, afirma Gullar. Prima pela simplicidade na escrita do poema. Vejamos:

“Uma parte de mim é todo o mundo/outra parte ninguém fundo sem fundo./ Uma parte de mim é multidão/ outra parte estranheza e solidão./Uma parte de mim pesa e pondera/ outra parte delira. Uma parte de mim é permanente/ outra parte se sabe de repente/ (...) Traduzir uma parte na outra parte/ que é uma questão de vida e morte/será arte”? (Traduzir-se) ou;
“Essa gente do Nordeste/ Não mata quem é doutor/ Não mata dono de engenho/ Só mata cabra da peste,/ Só mata o trabalhador./O dono de engenho engorda/ Vira logo senador”. (João Boa Morte, cabra marcado para morrer)

A atriz Elisa Lucinda diz: “Gullar é um poeta afinado com o seu tempo. O poeta é o tradutor dos sentimentos humanos, dá testemunho. Gullar é receitado e recitado”.

Recebeu o Prêmio Multicultural Estadão, pelo conjunto de sua obra. No teatro ganhou Molière, O Saci e, em 2002 foi indicado para o Nobel de Literatura. O livro de ficção “Resmungos” lhe deu o prêmio Jabuti. A Revista Época o colocou como um dos cem brasileiros mais influentes do ano de 2009. Em 2010 foi laureado com prêmio Camões, o mais cobiçado da literatura de língua portuguesa. No mesmo ano recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2011 ganhou o prêmio Jabuti com o livro de poesias “Em Alguma Parte Alguma”, o qual foi considerado o livro de ficção do ano.

Ao longo dos seus 80 anos redefiniu seus posicionamentos políticos. Hoje não é mais marxista, podia-se dizer: quase um democrata. Nas suas crônicas se mostra irônico com a política e emite sua opinião com rigor. A idade não lhe incomoda. Tem energia e força vital de um jovem, porque sabe admirar o Belo, o Amor, a Natureza. O humanismo anda “pari passu” na vida cotidiana. Conhece muito bem a alma humana e, ao reconhecê-la, sabe dialogar e explorar esse enigma que é o ser humano. Sempre atento às suas complexidades e aos seus mistérios. Seus textos são contextualizados com o momento social, político e cultural do país.

Poeta na acepção da palavra, sensível a tudo que o rodeia. Não gosta da poesia hermética, prefere a singeleza e a simplicidade. Acha que a pessoa tem que ler, entender e compreender o que está escrito. Ele fala numa entrevista: “Não quero saber do sofrimento, quero a felicidade. Não gosto de fazer lamúrias. (...) Não quero ter razão. Quero ser feliz! “

Para concluir, vou ler o poema “Me leve, me leve (Cantiga para não Morrer)”:

“Quando você for se embora,/ Moça branca como a neve,/ Me leve, me leve.

Se acaso você não possa/Me carregar pela mão/ menina branca de neve/ me leve no coração.

Se no coração não possa/por acaso me levar/ moça de sonho e de neve,/me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa/ por tanta coisa que leve/ Já viva em seu pensamento,/ menina branca de neve/ me leve no esquecimento.”

                     Obrigada!

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