Eu trago em mim
os povoadores da solidão.
E mando que se façam bandeirantes,
e quebrem pararelos
e quebrem meridianos,
na guerra contra todas as fronteiras.
E descubram ouro no sono das montanhas
e apresem os índios nas surpresas da inocência
e façam filhos nas negras
mães da solidão
e pisem a cabeça das serpentes
com a ilusão de esmagar todas as mágoas
que não podem ser destruídas
sob as sapatorras da marcha escapista.
E batam nos peitos brutos
e gritem para as quebradas das serras:
- nós somos os decifradores
dos mistérios do sofrimento!
E morram apertando as mãos
as esmeraldas que mentiram
na febre de Fernão Dias Pais Leme.
Eu sei fazer os povoadores da solidão.
Tive lições de milagres
aos pés de Deucalião e Pirra:
se eu lançar pedras sobre o meu ombro,
elas se transmudarão em homens e mulheres,
que amarão
e povoarão as galáxias
e cantarão hinos de exorcizar o medo
e plantarão sementes
e rezarão missas de agradecer colheitas
e crucificarão deuses
e criarão vacas
e terão a vontade viageira de turismar estrelas
e a vontade miúda de chorar
o amor difícil dos sonetos,
e só assim serão humanos.
eu sei descobrir os povoadores da solidão.
Eles podem não ter massa
nem carga elétrica
nem campo magnético,
como os neutrinos.
Mas eu vou buscá-los
em qualquer ponto do universo,
para os banquetes comemorativos
da glória do meu Rei.
A minha solidão está grávida de mim.
Sou o plenificador
dos espaços e tempos vazios,
porque sou o viveiro
de todas as Histórias dos homens
e de todas as profecias de Deus.
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