– Quem é você? – perguntei.
E minha voz tinha a dolência dos que sofrem...
Seus olhos tristes elevaram-se da terra e iluminaram os meus. Falavam de sonhos, mas lembravam as distâncias.
– Por quem você espera? – insisti curioso.
Nada respondeu, porque havia transposto o tempo dolorosos das esperas. Adivinhei dúvidas em seu semblante, quando vi o silêncio estampado nos seus lábios.
O caos inevitável se aproximava no manto negro da noite que já vinha.
Apontei para a fonte do Parnaso, na ânsia de que o dia não se fosse. Seria preciso conservar o calor do deserto na areia movediça dos caminhos. A jornada é longa, e o tempo não espera.
– Dê-me de beber! Tenho sede de esperança! – implorei.
Uma lágrima desmaiou sobre sua face, e o sussurro de sua angústia entreabriu seu silêncio. Os braços emergiram, lentamente, do nada e depositaram em minhas mãos um cântaro vazio...
PESCARIA
Há mais de vinte anos, em pleno albor de nossa juventude, o poeta Durval Mendonça e eu inventamos uma pescaria. E saímos pela vida afora, armados de caniços e samburás. Sentamo-nos à beira de uma noite estrelada, querendo pescar estrelas. Lançamos os anzóis às profundezas dos céus e, nas pontas, para atraí-las, a isca dourada de um sonho vivo, ainda se bulindo.
As estrelas cintilavam no infinito, como dorsos de lambaris na superfície da treva em silêncio. O tempo corria em lugar do vento, e nós dormitamos sobre a esperança de uma estrela viva, em nosso aquário de fantasias... De repente, a linha da ilusão estremece!
Ficamos atentos.
Depois um arranco...
Um outro arranco...
E nos sentimos arrebatados para o infinito, acima, arrastados pelo supremo delírio de dois poetas...
E vocês sabem o que aconteceu?
UMA ESTRELA NOS PESCOU!
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