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terça-feira, 2 de março de 2010

O Pulo do Gato - Cláudio Queiroz


O velho resmunga sons ininteligíveis de desagravo quando a mosca lhe roça o bigode e nariz.
Aborrecido, muda bruscamente de posição. Agora, de bruços, volta a dormir suavemente, sob o afeto de uma ligeira brisa que sopra da janela, afagando-lhe os cabelos.
O ambiente era de tranqüilidade. Bastava-se observar a decoração bem típica dos aposentos de um homem já velho e solitário: um precário guarda-roupa de duas portas, uma cadeira de balanço apinhada de roupas já usadas e alguns livros. Na parede, fronteiriça à janela, à direita da porta de entrada, um quadro de moldura, já em adiantado estado de uso.
Dizia-se que fora o velho Ezequiel, tipógrafo, aposentado do Estado, ele próprio, o pintor do quadro, no qual podia-se observar um casal risonho, ele ajudando a sua jovem companheira a transpor um pequeno riacho que corria entre pedras.
Novamente, o velho Ezequiel volta a se agitar na cama. Com isso, o gato mourisco, que dormitava em cima do guarda-roupa, levanta a cabeça, atento, bigodes em posição de alerta.
Agora, o ex-tipógrafo dá mostras de impaciência. Dormira após penosa luta com o gato que, ultimamente, teimava em viver em sua companhia. Odiava aquele felino de olhos amarelos “tipo do sujeito bilioso e mau”, como murmurava.
Deitara-se, afinal, cansado da perseguição, ainda mais sob o efeito da lembrança de que, somente dali a dez dias, receberia seu minguado dinheiro.
Sonha, agora, que dois oficiais de justiça retiram da parede o seu valioso quadro. “Para pagar aos devedores”, diz um deles, rindo do desespero que o domina.
O pesadelo desperta-o bruscamente. Aos 68 anos e com sério problema de coluna, entende-se quão doloroso é um levantar rápido.
A mão ainda trêmula tateia em busca de seus óculos. Ergue-se e, às apalpadelas, dá com o pé no urinol provocando um ruído desagradável.
Resmunga zangado, aborrecimento que logo se transforma em ódio, quando, profusamente, vê o gato pular do guarda-roupa e cair-lhe em cima da cama.
Numa agilidade humilhante, o animal parece debochar dele, os olhos satanicamente piscando com ironia.
O ex-tipógrafo, ainda atordoado, procura, ansioso, ver o seu quadro. Adianta-se e, com sofreguidão, vai de encontro ao seu odiado inimigo que pulara diante dele. O velho solta uma imprecação de desespero, enquanto suas mãos agitam-se no ar, tentando, em vão, agarrar-se a algo. Não obtendo o equilíbrio e, ante a iminência da queda, volta a olhar a parede em busca, de ali, ver o quadro, para ele, de valor inestimável.
Mas, o tombo foi desastrado. O homem bateu feio com a testa na cadeira, indo rolar, gemendo, no piso da sala.
Choramingando baixinho, leva a mão ao rosto, pressentindo que estava ferido. E, com dedos trêmulos, apalpa dolorosamente os fragmentos estilhaçados dos óculos, que alçara à testa, minutos atrás.

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