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sexta-feira, 19 de março de 2010

“Sob Eros e Thanatos” - Maria do Carmo Fontenelle


Tem razão o ilustre intelectual Genuíno Sales quando, no prefácio do livro em pauta, declara: “Giselda é uma contista de primeira linha, sobretudo por incorporar na alma as grandes virtudes poéticas. Grande poeta não poderia deixar de ser grande contista”.
O pensador inglês Tom Peters costumava iterar: “Se a janela da oportunidade se abrir, não deve baixar a persiana”. Giselda mantém a persiana do triunfo bem aberta, deixando que lucipotentes auras de sabedoria iluminem sua mente. Quanta criatividade! Quanto talento demonstram as narrações arquitetadas pelo mundo ilusório da autora – “Princesa dos Poetas do Ceará”, sagrada por aclamação na augusta Casa de Juvenal Galeno, por iniciativa do memorável escritor Alberto Galeno.
Na seleção da obra para ser utilizada na presente explanação, fiz uma triagem entre 14 exemplares, todos deslumbrantes, em estilos diversos, a saber: “O Liceu e o Bonde” – Blanchard Girão, “Ana Terra”- Érico Veríssimo, “Jardim de Inverno”- Zélia Gattai, “Margarida La Rocque”- Dinah Silveira de Queiroz, “Na Esplanada da História”- Hilma Figueiredo Montenegro, “Eugenie Grandet”- Honoré de Balzac, “Os Escravos”- Castro Alves, “Mulheres Fascinantes”- Léon Tolstoi, “O Fio e a Meada”- Batista de Lima, “Portugal e Brasil – gentes e fatos”- Armando Duarte, “Til”-José de Alencar, “Confronto”- Cláudio Queiroz, “Crítica Reunida” e “Sob Eros e Thanatos”- Giselda Medeiros.
Confesso que não foi fácil. Após rigorosa avaliação, a preferência incidiu sobre o livro “Sob Eros e Thanatos”, de Giselda Medeiros, cujo estudo começará pelo que me atraiu, de imediato, além do conteúdo, o título.
Ao pesquisar sobre ambos os seres mitológicos, tomei conhecimento de que Eros, na mitologia grega, significa “desejo erótico”. Eros era filho de Nix (deusa da noite) e de Érebo, encarregado da harmonia cósmica. Mais tarde, atribuiu-se-lhe, como pai, Zeus, Ares ou Hermes; e como mãe, Afrodite, a Venus romana, deusa nascida da espuma do mar. É representado como um menino alado, munido de arco e flechas destinadas a despertar os ardores da paixão entre os humanos. Thanatos (em árabe quer dizer Antônio). O dicionário mitológico de Nádia Jullien e a Internet afirmam que “Thanatos era um herói hipocorístico, filho de Érebo e Nix (deusa da noite), portanto irmão de Eros e irmão gêmeo de Hípnos –(deus do sono). Thanatos era deus da morte, porém Hades era quem reinava sobre os mortos do submundo. Thanatos era representado como um jovem alado, portando uma tocha apagada, ou como uma nuvem prateada, ou ainda um homem de olhos e cabelos prateados, sendo este bastante utilizado na arte e na poesia”.
À guisa de ilustração, Sigmund Freud elaborou um trabalho sobre a discussão do inconsciente, relatando duas pulsões antagônicas; Eros, uma pulsão sexual, com tendência à preservação da vida, e Thanatos, a pulsão da morte.
Outrossim, o romancista, político e poeta mineiro Darcy Ribeiro, no ano de1998, publicou uma coletânea de poemas eróticos sob o título de “Poesia de Darcy Ribeiro – Eros e Thanatos”.
Quanto à obra ora apresentada tem muito a ver com o título, pois envolve natureza, romance, paixão e sensualidade, a noite e seus mistérios, a plenitude e a complexidade da vida, a melancolia e os desencantos da morte.
Além da originalidade do título extraído da mitologia grega, senti-me atraída pela singularidade dos 37 contos, os quais apresentam uma particularidade: as narrativas, de um modo geral, prescindem dos indesejáveis vícios de linguagem, tão comuns, hoje em dia, que tanto desfiguram o idioma, banalizando o texto.
No mais, devo acrescentar que “Sob Eros e Thanatos” não chega a ser uma obra monumental, “sui generis”, porém é um apanhado de temas de muito bom gosto, pontificados no suspense e no mistério, com pinceladas bem dosadas de romantismo e humor. Na verdade, o suspense e o mistério estigmatizam a obra em causa, revelando características que nos levam a momentos delirantes, plenos de suposições míticas e conflituosas. Há ocasiões em que o leitor vacila entre a espiritualidade milenar e a parapsicologia moderna; a ficção e os mistérios do além. Em suma, trata-se de um livro interessantíssimo! Nele fundem-se a densidade lírica do poeta, as maravilhas da natureza e o fascínio pelo quimérico, fatores esses que têm o dom de transportar-nos a vetustos casarões mal-assombrados... a estórias de Trancoso narradas no alpendre, em noites de luar, a costumes e hábitos campesinos vividos em épocas remotas.
Justo será mencionar que, na referida obra, percebe-se certo apuro com a norma culta do nosso idioma, requinte esse que a autora, sabiamente, intercala com jocosas frases de cunho popular, incluindo outros brasileirismos. Destaque para o significativo número de citações filosóficas e até bíblicas contidas na presente obra. Por exemplo: “O amor é a oportunidade única de sazonar, de adquirir forma, de nos tornarmos um universo para o ser amado”; “O homem é forte quando realiza Deus em si”; “A morte não é difícil. Difícil é a vida e o seu ofício”; “O que o homem gasta em anos para entender, aprende-o em questão de instantes de dor”; “O mar é mesmo um touro azul por sua própria sombra”;“O homem é nada comparado ao infinito e é tudo comparado ao nada”; “As estrelas nascerão. Nascerão e brilharão como os olhos das crianças”.
Numa linguagem experimental, a autora discorre sobre assuntos variados, deixando ao leitor a faculdade de deliciar-se ao derramar, suavemente, torrentes de indagações que tão bem caracterizam o suspense. Exemplifiquemos: O conto “A Pousada”- página 9, encerra algo fantasioso e, até certo ponto, aterrorizante. Dependendo do grau de sensibilidade do leitor, causará arrepios a aparição do enigmático camafeu...
Nas páginas 13,18,21,29,32,38 e 39 encontraremos: “A Casinha da Esquina”, “A Confidência”, “ A Fogueira”, “A Lagoa”,”A Pescaria”, “A Serpente” e “A Vingança”. Todos são provenientes de uma imaginação privilegiada; vale a pena lê-los. São contos atraentes e hilariantes, sobretudo “A Serpente”, o qual provoca um misto de comiseração e risos, se levarmos em conta a “santa” ingenuidade da “coitada” da D. Marocas... Enquanto os contos “A Visita” e “Passado Azul” sugerem algo a ver com a teoria da metempsicose. Vejamos: “Na manhã seguinte, o relógio apertado em minha mão e a lembrança de uma lágrima queimando-me”; “Aquela foi a última vez que vi papai”.
Ao lermos os contos “A Fogueira” e “A Lagoa”, deparamo-nos com o conhecido fenômeno do “déjà-vu”, que consiste no fato de ver-se, pela primeira vez, um determinado local e ter-se quase certeza de havê-lo visto anteriormente.
Vejamos o 9º parágrafo da página 61, em que a autora nos traz uma mensagem de carinho e solidariedade, uma verdadeira lição de vida, ao dissertar sobre determinada ajuda concedida a um frágil e indefeso rouxinol, quando a personagem reflete: “Que importância teria um rouxinol neste imenso vale de sofrimentos? Tem sim, é uma voz a menos para espalhar a beleza, a ternura e a poesia”.
Além dos contos mencionados, todos os demais merecem nossa atenção, em particular os das páginas 100 e 104. Asseguro-lhes que, em matéria de ficção, são realmente extraordinários. Enfim, todas as narrativas são muito bem elaboradas. Na maioria das vezes, a ficção se confunde com a realidade. E por aí vai o oceano exuberante de fatos pitorescos, emoções, mistérios e encantos que fazem de “Sob Eros e Thanatos” uma obra versátil, amena, cativante, aconselhável a quase todas as idades.

(Policromias 5º volume)

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